domingo, outubro 31, 2004

Sei que é comprida, sei que as pessoas às vezes não têm muita paciência mas não seja uma Sofia, leia a letra e veja se não é de cortar o coração...


Luiz Tatit - Haicai
by Luiz Tatit


Quando fiz de tudo poesia
pra dizer o que eu sentia
fui mostrar
ela não me ouvia
e mesmo insistindo todo dia
era inútil
não me ouvia
Sofia! Sofia!
não ouvia
e não havia
o que fizesse ela atender
sempre dispersiva
sempre tão ativa
Sofia é do tipo que não pára
não espera e mal respira
imagine se ela vai ouvir poesia!
Sofia, escuta essa, vai
é pequena
é um haicai
por fim
noite de lua cheia
prometeu que me ouviria
bem mais tarde às onze e meia
nunca senti tanta alegria
mas cheguei ela já dormia
Sofia! Sofia!
não ouvia
e não havia
o que fizesse ela acordar
Sofia quando dorme
sente um prazer enorme
fui saindo triste abatido
tipo tudo está perdido
imagine agora a chance que me resta
pra pegá-la acordada
só encontrando numa festa
então, liguei de novo pra Sofia
confirmando o mesmo horário
mas numa danceteria
a casa de tão cheia já fervia
e ela dançando
nem me via
Sofia! Sofia!
não ouvia e não havia
o que fizesse ela parar
Sofia quando dança
pode perder a esperança
mas eu tinha que tentar:
Sofia
estou aqui esperando
pra mostrar pra você
aquela poesia, aquela, lembra?
que eu te lia, te lia, te lia,
e você não ouvia, não ouvia, não ouvia
hoje é o dia
vem ouvir vai
ela é pequenininha
parece um haicai
e foi feita especialmente
Sofia, eu estou falando com você
pára um pouco
vamos lá fora
eu leio e vou embora
ou então aqui mesmo
te leio no ouvido
se você não entender
a gente soletra, interpreta
etc, etc, etc...
nada, nada, nada, só pulava
não ouvia uma palavra
aí já alguma coisa me dizia
que do jeito que ia indo
ela nunca me ouviria
essa era a verdade crua e fria
que no meu peito doía
Sofria! Sofria!
e foi sofrendo
que eu cheguei
nessa agonia de hoje em dia
fico aqui pensando
onde é que estou errando
será
que é o conceito de poesia
ou é defeito da Sofia?
ainda vou fazer novos haicais
reduzindo um pouco mais
todos muito especiais
ah, Sofia vai gostar demais!


Na boa, não é exatamente isso que é o Amor? Se fazer de cego, furar os próprios olhos, afinal, o que se quer ver já está gravado lá dentro mesmo, não é preciso ver... Ai Amor, a gente sempre quer se enganar...
Ontem de tarde sai na hora do meu lanche pra dar um rolê pela Penha de França e comer algo bem gostoso (de preferência).
Andei, vi discos, muitos, e parei pra fazer uma coisa que me deixou muito feliz: estava tocando uma música na praça, uma música nada a ver com as coisas que costumo ouvir, um R&B muito bonito, aí fui andando devagar pra dar tempo de ouvir e me deu um estalo, saca?, pra que andar mais devagar? E parei. Fiquei parada no meio da rua, no centro, ouvindo extasiada aquele som tão bacana. Ouvindo e olhando um senhor regando a grama da praça. Só não foi melhor, porque não atravessei para a praça pra poder sentir o cheiro da terra molhada. Seria muita ousadia para um dia só. Me fez bem. Depois, de noite, ouvia a música umas 30 x, mas não foi a mesma coisa.

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Meu filho de seis anos quer um CD com Caminhos do Mar, do Dorival Caymmi. Tão novinho, tão estragado...

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Alguém pode imaginar o insuportável da vida sem música? Estou neste instante ouvindo LUIZ TATIT, tão maravilhoso... Foi estranho, foi uma identificação imediata, desde a primeira vez que o ouvi já caí de amores pelo som. Como aconteceu também com o Cordel. É, devo admitir, gosto muito de música.

sábado, outubro 30, 2004

Poesia, pois é, poesia

Lendo o tal livro do Arnaldo Antunes, fui encantada por uma palavra: parangolé. Linda, não? Ouvi madrugada passada que tenho domínio sobre as palavras. Mas pensando , concluí que elas é que têm domínio sobre mim. Domínio total. E eu, me rendo. Apesar que, devo admitir, sou promíscua com elas. Me apaixono por um substantivo de forma sublime para abandoná-lo 4 páginas adiante por um adjetivo que me toma de amor. Chamem-me de leviana, não me importo.
A verdade é que não posso resistir a elas; as palavras me arrebatam. Me seduzem.
Fazem amor com o meu silêncio...
Considero as pessoas sem pescoço muito estranhas.

Arnaldo Antunes

Vim lendo no trem um livro do Arnaldo Antunes chamado 40 Escritos (Iluminuras: 2000). Uma deliciosa compilação de textos publicados em diversos tipos de mídia de 85 a 99. A escrita dele é fluente e rica e é um interessante panorama cultural de quase década e meia vistos pelo prisma de um grande artista.
Hoje era pra ter sido um dia muito louco e acabou sendo uma chatice sem fim. Fui agraciada com meu 1° salário no trampo novo, iria entrar mais tarde, portanto poderia dormir um pouco mais e estava doida pra finalizar o blog.
Fui atrasada, como sempre, não consegui nada decente para comer, cheguei no trabalho e descobri que não tinha Internet e que meu dia estava fadado ao silêncio: sem rádio virtual. Sem diversão. Sem mensagens WEB para meu Amor. Incomunicável, praticamente.
Não seria problema se eu não estivesse louca pra me comunicar. Resolvi a questão da música ouvindo um único e mesmo CD do Gilberto Gil por oito horas seguidas.A única coisa que consolou o meu dia, foi a expectativa de sair (10 da noite) e ir encontrar Mira, a baiana do acarajé da Praça da República, o acarajé com o qual sonhei durante toda a semana faminta, friorenta e sem $ que passei. O acarajé que embalou meu sono na noite anterior. Pois saí da Penha e fui direto pra Praça, a direção extremamente oposta a meu destino final, me sujeitei a todo tipo de exclamações chulas, pra então descobrir que Mira tinha saído cinco minutos atrás. Plena sexta de noite. Voltei deveras chateada, pensando em tomar uma breja pelo menos Na verdade, meu dia todo passou pedindo por minhas amigas e muitas cervejas envoltas em falatórios sem sentido. Quando estou chegando em casa, vejo que a esfirraria ainda está aberta. Me ponho a subir um morro chato e cansativo até que, na metade do caminho, as luzes se apagam e a porta se fecha. Definitivamente, um dia sem muitas pelúcias.

Conseguirei desta vez?

Há dias tento finalizar meu blog e não consigo, intempéries tantas...