Quem trabalha com livros vez ou outra ouve disparates que fariam estrebuchar no túmulo até o mais calmo dos autores. Não que ouvir merda no trampo seja mérito exclusivo das bibliotecárias. Mas, como trabalhamos com livros e respiramos, o dia todo, essa aura de cultura, ficam mais gritantes estapafúrdias literárias como esta:
- Moça, uma amiga minha pegou um livro aqui e eu peguei dela e comecei a ler e não terminei. Será que você pode pegar pra mim?
- Claro, qual é o livro?
- “Olhai os Líricos do Campo”.
Imediatamente vislumbrei em minha cabeça dezenas de poetas vestindo calças brancas e batas de algodão, dando corridinhas seguidas de saltinhos em meio a um gramado florido.
Ou então, minutos após fazer o empréstimo do clássico Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto, a figura que volta, toda nervosinha, batendo o livro no balcão:
- Você me deu o livro errado.
- Como assim? Que livro você queria?
- Esse mesmo, mas normal.
- Como assim “normal”???
- Normal, um livro normal, escrito normal, do jeito que a gente fala.
- Em prosa, você quer dizer?
- Quero um livro escrito do jeito que a gente fala.
- Mas Morte e Vida Severina é um poema...
Como explicar pra uma estudante de LETRAS, o que ela teria a obrigação de saber? Me pergunto o que essa figura fazia nas aulas de Teoria da Literatura (com o maravilhoso André Gomes, professor excepcional) que não sabia nem a diferença SEMÂNTICA entre prosa e verso. Decerto deveria ler algo bem normal como TiTiTi ou Minha Novela. Xucra.
Agora mesmo, enquanto escrevia esta breve narração para vocês, me apareceu um fulano:
- Vou levar esses dois livros.
- Me empresta a sua carteirinha, por favor?!
- Pode ser o vale-transporte?
- Pode! Pode se você for pegar um ônibus. Mas pra pegar os livros, preciso da sua carteirinha da biblioteca.
Trabalhar com livros é uma dádiva, inda mais pra quem Ama as palavras como se fossem amantes. O difícil é agüentar as pessoas que vão atrás dos livros e não lhes dedica a mesma veneração. Tipos que chegam, cheios de pose, pedindo “aquele livro do Machado de Assis... o John
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