quarta-feira, dezembro 28, 2005

Este mês Marcelo fez 8 anos.
Ensinei meu filho a ler, antes, a gostar de ler. Ensinei a Ele a gostar de Tim Burton e Johnny Deep. Ensinei a Ele que Chico Buarque é um gênio, que o vento nos acaricia, que Phillip Glass revolucionou a música erudita, que Bach falava com deus, assim como Monet e sua impressões; que a poesia é vital aos seres humanos e que Clarice Lispector é a Fada das Palavras.
A cada dia procuro ensinar a Ele que devemos amar e respeitar as pessoas por seu caráter e não por suas escolhas.
A cada dia digo a Ele que devemos ter responsabilidades e que devemos assumir nossas ações.
Marcelo é o ser mais carinhoso, amoroso e digno que conheço.
E não pelas coisas que ensinei, mas por tudo que Ele tem me ensinado.
A cada dia peço perdão por não ser uma mãe perfeita.
E agradeço a Ele por me ter salvo.
Por ter me dado coragem e motivo de, a cada dia, ser uma pessoa melhor. Não apenas para ele, mas para o mundo.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Como saber se se está ficando velha...

Encontrar algo de que gostava na infância (como um jogo, por exemplo) na seção de “Clássicos”.

Nos embalos de sábado a noite

Noite de sábado. Neste exato momento estou passando por um drama terrível.
Após um breve cochilo, me dispus a reidratar meu corpo e, ao acender a luz, me deparei com uma gigantesca barata no telhado da escada, possivelmente alada.
Agora sou refém na torre, sem alimento ou água de procedência salutar que me sustentem. E o pior é que meu spray anti-dragões está no andar de baixo juntamente com minhas vassouras; e meu príncipe salvador, o grande Juá do condado de Casa Forte, ainda não chegou e não chega.
Espero, sinceramente, sobreviver a mais esta desdita.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Sonho de uma noite de verão - W. Shakespeare

QUINCE — Está aqui toda a nossa companhia? (...) Aqui está o papel com a indicação do nome de todos os que em Atenas foram considerados capazes de representar o nosso interlúdio, diante do du­que e da du­que­sa, na tarde do dia do seu ca­sa­men­to. (...) Respondei à medida que eu for cha­man­do. Nick Bottom, tecelão!
BOTTOM — Presente. Dizei qual seja a minha parte e prossegui.
QUINCE — Vós, Nick Bottom, estais inscrito para o papel de Píramo.
BOTTOM — Quem é Píramo? Amante ou tirano?
QUINCE — Amante, que se mata ga­lan­te­men­te por questões de amor.
BOTTOM — Para sua execução será forçoso derramar algumas lágrimas. Se me toca esse papel, a assistência que tome conta dos olhos; provocarei tempestades, saberei de algum modo lamentar-me. Vamos aos outros. Contudo, ficaria melhor no papel de tirano; daria um Hércules de mão cheia, um rompe-e-rasga de partir um gato em dois. O pico furioso no mar estrondoso já vem tor­men­toso romper a prisão. O carro nitente de Fibo esplendente vencer não consente o fado bufão. Gran­dio­so! No­meai agora os outros comediantes. Essa é a ver­da­dei­ra dis­po­si­ção de Ercles, a disposição de um tirano. Um apaixonado é mais sen­ti­men­tal.
QUINCE — Francisco Flauta, re­men­da-fo­les.
FLAUTA — Presente, Peter Quince.
QUINCE — Tereis de ficar com Tis­be.
FLAUTA — Quem é Tisbe? Ca­va­lei­ro andante?
QUINCE — É a mulher que Píramo deve amar.
FLAUTA — Ora, por minha fé, não me deis papel de mulheres; a barba já me está a apontar.
QUINCE — Pouco im­por­ta; re­pre­sen­ta­reis de más­ca­ra, fi­can­do ao vosso arbítrio falar com voz tão fina quanto quiserdes.
BOTTOM — Se eu puder ocultar o rosto, dai-me também o papel de Tisbe; falarei com uma vozinha monstruosa: Tisne! Tisne! Ah, Píramo, meu grande amor! A tua querida Tisbe, a tua esposa idolatrada!
QUINCE — Não! Não! Re­pre­sen­ta­reis Píramo, e vós, Flauta, Tis­be.
BOTTOM — Está bem; prossegui.
(...)
QUINCE — Robim Starveling, tereis de fazer o papel da mãe de Tisbe. Tom Snout, caldeireiro. (...) Vós, o pai de Píramo; eu, o pai de Tisbe; a Snug, marceneiro, tocará o papel do leão. Penso que desse modo fica bem arranjada a comédia.
SNUG — Já está escrita a parte do leão? Se a tiverdes aí, dai-ma logo, por obséquio, que eu sou um tanto lerdo para aprender as coisas.
QUINCE — Tereis de representá-la ex tempore, por consistir tudo apenas em rugir.
BOTTOM — Dai-me, também, o papel de leão. Hei de rugir de maneira que ficarão comovidos os corações; hei de rugir de modo tal, que o duque exclamará: Que ruja outra vez! Que ruja outra vez!
QUINCE — Se o fizerdes por ma­nei­ra muito terrível, incutireis pavor na duquesa e nas demais senhoras, a ponto de soltarem gritos, o que seria mais que suficiente para nos enforcarem a todos.
TODOS — Para nos enforcarem. As nossas mães perderiam os filhos.
BOTTOM — Concordo, amigos, que, se de susto fizerdes as senhoras perder o juízo, só lhes restará a discrição de nos enforcar. Mas no meu caso agravarei de tal modo a voz, até rugir tão do­ce­men­te como uma pombinha mamante; rugirei como um rouxinol.
(...)

terça-feira, outubro 25, 2005

O juiz apitou o começo da partida mal ela saíra do vestiário. Não entendia direito que jogo era aquele, qual o seu objetivo, muito menos quem era do seu time e quem era adversário. Mas permanecia em campo, ora aguardando que surgisse alguma bola, ora chutando as várias que vinham de todos os lados. Todos pareciam estar em seu jogo, só precisava descobrir, e isso era urgente, quem jogava contra e quem jogava a seu favor. Não entendia bem as regras do banco de reservas.
Precisa também descobrir como diabos se marcava um gol.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Às vezes, um pouco de nostalgia é bem legal....

sábado, outubro 22, 2005

Os fedidos que me desculpem, mas perfume é fundamental


Vejam só... estou, neste exato momento e instante, utilizando-me da internet da faculdade. Acontece que o figura que está ao meu lado é dono de um bodum praticamente causticante.

Não bastasse o fulano partilhar suas odoríficas mazelas com o bondoso restante da humanidade, ainda vira pra mim e pergunta:

- Isso aqui é pra colocar cd?

- Não, é entrada de disquete antigo.

Ao que tenho de ouvir isso:

- Ah, esse tipo de disquete eu não cheguei a conhecer....

Caceta, além de empestear o meu ar tão floreado com meus óleos e hidratantes, ainda me chama de VELHAAA???? Ai, como me sinto uma idiota pela educação me impedir de dizer:

-É, pelo jeito o Rexona você também não teve tempo de conhecer, né?

Se eu não fosse tão tonta, eu diria; ah se diria!!

sexta-feira, outubro 21, 2005

Hear it, please....

Coisas de Marcelo (e do Brasil...)


Conversando com Marcelo sobre um jogo:

- Então, filho, o jogo é super legal. Você tem de montar uma cidade inteirinha, mas tem de pensar o planejamento arquitetônico a longo prazo, senão, dentro de alguns anos a cidade pode ficar toda esculhambada.

- Entendi.... pode, tipo, aparecer um Babaluf no jogo, sair zoando tudo e depois dizer: "Eu não sei de nada, aliás, eu não tô nem aqui...".

(Marcelo Aaron Sabiá, 7 anos, borboletinha e futuro comentarista político do Estado de São Paulo)

quinta-feira, outubro 20, 2005

Here Comes the Sun ou a Primavera está Chegando ou Puta que o pariu, não agüento mais carregar blusas, regatas e sombrinhas


Gostaria encarecidamente de solicitar através deste, a doação de copos e de um nariz novo

Sim, Andreinha encontra-se em crise de rinite há, vejamos... uns três meses, aproximadamente. Já deixou de fumar durante o dia e aos domingos, deixou de freqüentar a própria sala-de-estar acarpetada e pingou mais gotas de soro fisiológico nas narinas do que o permitido para a devida descontaminação do frasco. Andreinha só respira pela boca na maioria do tempo, o que dificulta, e muito, a mastigação de alimentos mais consistentes . Andreinha não consegue comer churrasco sem abrir a boca no meio de sua ruminação. Andreinha tem medo de morrer de apnéia. Andreinha sente constantes ardências em suas vias aéreas superiores.
Andreinha quer mandar as sucessivas mudanças climáticas tomarem no meio do olho do cú.

(Não, os copos não têm nada a ver com a rinite mas necessito da doação dos mesmos de qualquer maneira já que os meus foram utilizados no desenvolvimento da estratégia de número 20025 aqui descrita.)

segunda-feira, outubro 10, 2005

Karaokê

Ah, que noite aprazível tive junto a meu rebento...
Saídos de uma festinha de aniversário, fomos a uma pizzaria nos arredores de nossa casa. Lá chegando, constatamos que o estabelecimento dispunha de um videokê, ao que nos postamos bem em frente ao mesmo.
As músicas, belas melodias cantadas por ninguém, nos incomodaram, a principio. Ainda tentamos ver um pouco de TV, mas como fomos informados que a mesma não sintonizava nenhum canal, resolvi, a bem das circunstâncias, desfrutar das imagens vindas do grande advento tecnológico.
Que maravilha aquilo não se tornou com o auxilio de duas cervejas: belas imagens de windsurf se entrelaçavam a outras de folhas orvalhadas, cestos carregados de coisas indefiníveis em meio a uma grande planície e um chiuahua por sobre folhas secas. Que regalia para os olhos...
Tive um pouco de trabalho com Marcelo, que queria arremessar coisas contra o aparelho, mas me diverti deveras com o que vi, mal me contendo para desfrutar de tais imagens em minha própria casa já que, em meu dia de anos, fui presenteada com um dvdokê, aparelho nunca utilizado em toda sua plenitude de funções.
Mas farei jus ao mesmo e logo me esbaldarei no acalanto de meu lar com as pertinentes imagens de piqueniques, vasos com flores de plástico e gafanhotos.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Canto de Orfeu

Se não posso soltar a lágrima guardada de uma noite distante, é como se ela se impregnasse na alma, no próprio ar que respiro e se multiplicasse em lavas vulcânicas de suspiros que jorram num rompante quando em meu caminhar distraído por um trecho de rua, próximo ao meio-fio, uma flor subterrânea insiste em brotar em um canteiro vazio; e a lua e os faróis e a lembrança de um rosto, uma voz, um corpo brilhante envolto em lençóis e toda a luz noturna parecem se concentrar em um brilho no canto do olhar que não sei mais se é a fagulha de um instante de recordação de uma canção muito antiga, escondida com esforço nas profundezas de mim mesmo, ou a força de algo maior e palpitante, que transpassou o coração como um falso punhal em sua transparência romântica para virar ferida na carne e no espírito quando a paixão deixou de ser semântica e a atingiu em cheio; atingiu primeiro ela, que não sei bem se estava à minha procura ou em busca de alguém como eu, perdido em sua própria noite, que encontrei o dia quando a fiz sentir-se viva e plena de sentido logo assim que ela sorriu e abriu a janela da alma sem se deter nas sombras, somente para me encontrar; foi por mim que ela brotou como uma flor solitária que não pude cuidar e perdeu suas pétalas nas lágrimas do tempo; e eu acompanhei seu renascimento e sua nova florescência à distância, contemplando-a em silêncio nas madrugadas, quando adormecia, e em uns tantos momentos ardentes do dia, esperando que suas mãos cansassem de abraçar ausências, suas lágrimas secassem e seus lábios não proferissem mais o meu nome, para então entrar e ficar ali parado, com minha lira fria, respirando em sua respiração e mergulhado na música silente de minha dor, sem poder tocar ou cantar porque era proibido falar de amor.
Claudia Rio
I'm so very sickned
I'm so sickened now

Pra quem quiser ouvir...

Neblinas e Flâmulas
Leila Pinheiro
Composição: Guinga - Aldir Blanc

Vivemos de olhares
em todos os lugares
e a gentileza em nós nos faz
heróis covardes
dois bichos desejando
em jaulas diferentes
num cio infindo atrás de grades
e a possibilidade
de gozo e de saudade
floresce sem dar fruto
e o luto sem saída
da hora não-vivida
é bem pior pro coração
que a despedida.
Entre a neblina ouvimos
o som dos nossos sinos
e ansiamos nos tocar:
os olhos criam luzes.
Cada encontro
os teus olhos barcos pedem aos meus um cais.
Nas noites estreladas com velas desfraldadas
vejo você se aproximar
e os olhos brilham:
acendo a minha quilha,
enfeito toda a ilha
pra esse encontro imorredouro
e no ancoradouro
as flâmulas que aceno
se cobrem de sereno:
são lágrimas choradas
em cada madrugada...
quem viu o amor renunciar ao desvario?
Mas, no fim da viagem,
na hora da abordagem,
sinto você se desviar...
Netuno sopra as luzes.
Fim do encontro:
os teus olhos barcos gritam adeus
no mar dos meus.

sexta-feira, setembro 30, 2005

Foi só o tempo que errou....

quinta-feira, setembro 29, 2005

AA

(Pelo menos a flor é bem bonitinha...)


Jú, voltando de Londrina onde foi ministrar um curso, trouxe-me diversos presentes. Dentre os souvenires, constava uma garrafa de cachaça de sucupira.
Tendo provado da mesma, e desprovida de meu Aurélio que, provavelmente deve estar pelintrando em algum lugar da casa, desenvolvi a seguinte teoria: sucupira = ramificação arbórea cuja maceração das sementes dá origem a bebida semelhante em sabor e qualidade ao suco gástrico, muito indicada a quem está parando de beber já que, ao tomar um gole, o individuo tem a nítida impressão de estar “gorfando”.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Em homenagem a meus amigos mal-do-século

CADU DISSERTA SOBRE BASTÕES HEMOSTÁTICOS que servem para estancar o sangue quando alguém se corta com gilete

Em geral, quando a gilete risca o pescoço ou o pulso, as pessoas costumam estancar o sangue depositando um metro e meio de terra sobre o cidadão.

terça-feira, setembro 27, 2005

Desconfio que tenho problemas.
Quem me conhece bem sabe que não gosto de doces, exceto por pudim de leite e torta de limão.
Mas hoje, após buscar Marcelo, o Grande no colégio, fui as compras e eis-me sem comer nenhum pastel, sem tomar qualquer coca-cola, nem cerveja, muito menos sem o fremente desejo de comprar três pizzas meio-a-meio.
Ao invés disso, retornei para casa portando uma goiabada, duas trufas e dezoito pés-de-moleque, dos quais não restou nenhuma unha sequer para contar história.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Sim, sim, eu confesso. Podem guardar os instrumentos de tortura que eu confesso: eu roubei meu próprio filho. Acabei de fazê-lo e como o remorso corrói os brios que ainda me restam, vim aqui confessar meu pequeno delito. Roubei um doce da sacolinha de aniversário do Marcelo. Também não foi nenhum Sensação ou algo que o valha. Foi, antes, um parco tabletinho de quebra-queixo, desses bem chulos que são vendidos a 10 centavos no trem e que têm gosto de sabão e nenhum vestígio de coco. Mas é que a tpm me enlouqueceu na busca por glicose e foi o que se me apresentou.
Mas também não sou uma mãe assim tão má. Como bem pode atestar Giovana, tirei Psycho do convívio dos outros brinquedos por ter a quase certeza de que ele pratica sevíceas contra os mesmos, principalmente com o Max Steel (e que isso fique só aqui entre nós, já que não pretendo, com este relato, comprometer a hombridade de tão másculo brinquedo). Psycho encontra-se, neste momento, recluso no meu revisteiro já que muito me interessa a integridade física dos brinquedos de meu filho.
Não que isso me redima do ato ilícito, mas....

sexta-feira, setembro 16, 2005

Lição de Casa

Táxi. Chuva.
Marcelo, Andréa, Giovana e Arthur conversam distraidamente, entretendo o motorista:

Marcelo: - Mãe, você devolveu o bilhete pra escola?

Andréa: - Biléti?

Marcelo: - Pára, mãe. Bilhete.

Andréa: - Biléti!!!! (risos à beira do descontrole)

Arthur: - O que é um biléti?

Giovana: - Devolve o biléti!! Devolve o biléti!!

Marcelo: Pára com isso, mãe.

Arthur: - Mas o que é um biléti?

Andréa: - Ele deve estar confundindo a lição do "b" e do "g" (aqui houve uma breve e incoerente explanação sobre alfabetização, vogais e consoantes, impossível de ser reproduzida). Fica frio, filho. Amanhã mando um prestobarba pra sua professora.

quinta-feira, setembro 08, 2005

A tarde


Estava num posto de saúde.
Uma velha senhora com os cabelos quase totalmente brancos, contrastando com o negro da pele cansada. Mas não era a cor de seus cabelos que chamava a atenção mas, antes, os claros sinais de que haviam permanecido com bobes por muito tempo. É provável que a noite tenha sido de desconforto; por causa deles e da ansiedade, talvez mal tenha podido conciliar o sono. Mas o sacrifício valera a pena. Agora seu cabelo estava muito arrumado, grandes cachos crisalhos enrolados para dentro.
Toda sua pessoa denotava um esmero para aquela situação: as correntes douradas, a roupa correta, a velha bolsa de alças puídas. Seu ser exalava uma dignidade difícil de se encontrar. Dignidade de gente simples, de uma vida sem grandes arroubos. Aquela dignidade de quem passa pela vida com muita dificuldade, nunca se deixando seduzir pelos sustos.
Um sorriso muito claro nos lábios já frouxos.
Havia tanta sabedoria naqueles lábios e cachos de bobes, tamanha falta de complicação em arrumar-se tanto e deveras para se consultar num posto de saúde de bairro, tão anônima que mal seria notada não fosse pela grandeza. Uma vida de plácidos acontecimentos.
Foi chamada pela médica e saiu do consultório com as mãos cheias de papéis, o rosto cansado demonstrando emoção diante de tantos acontecimentos que estariam por acontecer. Contou, rapidamente, para a visinha da sala de espera que deveria fazer vários exames. Depois, contou tudo novamente para a recepcionista distraída, mostrou-lhe os papéis. De certo não era nada grave, apenas rotina, já que transparecia em sua fisionomia uma certa alegria, como que um orgulho até. Estivera certa em se arrumar tanto; agora, era merecedora de toda atenção do médico, ele até a estava indicando a outros. Deveria ter se comportado muito bem, ter sido uma boa paciente.Era um ser de cuja vida, outros deveriam se ocupar.
Despediu-se tão sorridente, atarefada e simples, que encheu a tarde do mundo de ternura.

quarta-feira, setembro 07, 2005

O pior me aconteceu: no último final de semana minha adorável residência foi invadida por dezenas de centenas de baratas.
Como a remoção de corpos ainda não se deu de maneira efetiva, não posso informar com precisão a quantidade de nojeiras que atacaram minha vida divertida, mas os números não oficiais são: três na sala e duas na cozinha, todas aladas e garbosas.
Agradeço as manifestações de apoio e carinho que tenho recebido, principalmente à minha amiga Gi, que muito me apoiou na escada, vassoura em punho, quando da invasão baratística.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Sim, às vezes eu tenho recaídas...

sábado, agosto 06, 2005

O casal de poetas iria passar a noite fora.
Ela, mulher previdente que era, preparou uma lista mental, adicionando posteriormente em sua bolsa os seguintes provimentos:

- uma touca, uma boina e um par de meias;
- um gravador;
- um livro sobre a fabricação de brinquedos de sucata, um sobre figuras de linguagem e outro sobre a sociedade francesa do século XIX;
- três baralhos incompletos;
- um sabonete;
- um caderno;
- um pacote de waffer de limão;
- um limão (em espécie)

A noite teria sido um perfeito sucesso se ela não tivesse se esquecido de levar seus óculos, pilhas e uma caneta. Mas, habituadíssimos que estavam às intempéries cotidianas, jogaram baralho apostado durante toda a madrugada. Só não conseguiram chegar a um consenso sobre quem venceu, já que a cachaça lembraram de comprar no meio do caminho.

sexta-feira, agosto 05, 2005


Vim aqui para dizer que eu não gosto do Cake, não acho a banda maravilhosa e muito menos gostaria de ir ao show.
Na verdade, eu nem sei que vai haver um show.
Aliás, eu nem sei quem é Cake: desconheço o fato de que bolos façam boa música (dogra!!)

terça-feira, julho 12, 2005

Frase da Semana

De: Stella Maris Caymmi (esposa de Dorival)

Repórter: Dona Stella, a senhora também faz música?
Stella Maris: Não. Eu faço músicos.

domingo, julho 10, 2005


Por obscuros motivos, em Istambul, na Turquia, cerca de 1.500 ovelhas se jogaram em um precipício enquanto seus donos tomavam café, numa espécie de suicídio coletivo. As últimas conseguiram se salvar já que tiveram sua queda amortecida pela fofa pilha de suas irmãs kamikazes. Pobrezinhas...

MORAL DA HISTÓRIA: cafeína faz mal a saúde. Pelo menos para a saúde de caprinos em geral.

sábado, julho 09, 2005

Coisas de mãe de Marcelo

















Voz de melindres:
- Gatinho, gatinho, gatinhoooo....
- Mãe, desde quando gato anda de coleira??
- Está numa coleira, coitadinho?
- É um cachorro, mãe.....

sexta-feira, julho 08, 2005

Sexta-feira à noite... garoa, faz frio. Andréa tem dor de garganta, toma gemada, estuda lingüística e pensa em tudo que não foi. Andréa pensa nos porquês.
E não entende nada...

quinta-feira, julho 07, 2005

Conheço alguém que precisa muito ouvir isso aqui...

segunda-feira, julho 04, 2005

Acrilic on Canvas

Legião Urbana

É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra

E era sempre:
"Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste"
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são

Preparei a minha tela
Com pedaços de lençóis que não chegamos a sujar
A armação fiz com madeira
Da janela do teu quarto
Do portão da sua casa
Fiz paleta e cavalete
E com as lágrimas que não brincaram com você
Destilei óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz,então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você
E com ele marquei dois pontos de fuga
E rabisquei no horizonte

E era sempre:"Não foi por mal"
Eu juro que não foi por mal
Eu não queria machucar você
Prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez
E era sempre,sempre o mesmo novamente
A mesma traição

Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito,ela não mora mais aqui"

Mas então,por que eu finjo
Que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim
Não foi desse jeito
Ninguém sofreu
E é só você que me provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito"
E "não-te-esqueças-de-mim"

domingo, junho 19, 2005

Tem dia que de noite é foda

Gostaria de entender uma coisa: ontem fui a uma festa na Divina e dancei muito, mas muito mesmo. Como é de meu costume, retirei meus sapatos e dancei descalça (ato este que me fez chegar em casa com pés de moradora de rua). O problema é que possuo dois hematomas na região central de meu braço direito, arranhões em toda a parte posterior do braço esquerdo e um hematoma muito dolorido e extremamente feio por sobre o cotovelo.
Quaisquer indicações sobre o que pode ter acontecido comigo, é favor me avisar.
Muito grata.

sábado, junho 18, 2005

Coisas de Marcelo

- Professora, você sabe desenhar hormônios?
- ????? Como assim hormônios, Marcelo?
- Hormônios, que vivem no corpo da gente. É que a minha mãe só sabe desenhar leucócitos e vírus...

segunda-feira, junho 06, 2005

Nao sei se este texto eh mesmo de autoria do Verissimo, estou com uma preguica danada de averiguar isso agora, portanto, publico aqui do jeito que recebi (inclusive, sem editar, como bem se pode ver...)

A PESSOA ERRADA Luis Fernando Veríssimo

Pensando bem Em tudo o que a gente vê e vivencia E ouve e pensa Não existe uma pessoa certa pra gente Existe uma pessoa Que se você for parar pra pensar É, na verdade, a pessoa errada Porque a pessoa certa Faz tudo certinho Chega na hora certa Fala as coisas certas Faz as coisas certas Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas Aí é a hora de procurar a pessoa errada A pessoa errada te faz perder a cabeça Fazer loucuras Perder a hora Morrer de amor A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar Que é pra na hora que vocês se encontrarem A entrega ser muito mais verdadeira A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa Essa pessoa vai te fazer chorar Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas Essa pessoa vai tirar seu sono Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível Essa pessoa talvez te magoe E depois te enche de mimos pedindo seu perdão Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado Mas vai estar 100% da vida dela esperando você Vai estar o tempo todo pensando em você. A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo Porque a vida não é certa Nada aqui é certo O que é certo mesmo, é que temos que viver Cada momento Cada segundo Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo E só assim é possível chegar àquele momento do dia Em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo." Quando na verdade tudo o que Ele quer É que a gente encontre a pessoa errada Pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...

quarta-feira, maio 25, 2005

Madrugada chuva torrencial dois dedos do conhaque usado para fazer o jantar o último cigarro sendo mesquinhamente guardado para a hora em que as lagrimas de dor raiva indignação teimarem em afrontar minha auto-suficiência Radiohead esta necrose foi causada pelo consumo do tabaco escuridão a chuva de hoje não tem cheiro o coração de hoje não tem esperança e os olhos que nunca têm sono atravessam o ipê os fios as janelas os prédios escorrem na própria chuva Exit Music (for a film) mas o filme não se acaba e os atores choram a falta de imaginação do roteirista e repetem as mesmas cenas cada um a um tempo e a tristeza parece não cessar como a chuva "breathe keep breathing" Tom York e chuva e ainda a escuridão e o vazio de não ter "I cant do this alone" o que poderia ter tido a fumaça do último cigarro se esvai pela janela com um rosto pálido triste e anônimo pelo filtro sem esperanças "today we escape"

terça-feira, maio 24, 2005

15h52, acabo de dar três garfadas numa comida fria e insossa. Tudo em mim é frio e insosso...
Minha sorte do dia no Orkut fala maravilhas sobre a minha velhice. Não quero pensar sobre a minha velhice, não quero pensar no que virá. Não me venham falar sobre o depois. Não me peçam paciência.
O que eu quero, eu quero aqui e quero AGORA!

Ah, e antes que eu me esqueça: PAU NO CU DO DIA DE AMANHA!!!!
QUEM ME DIRA?
(Vander Lee)

Para aonde vai uma canção
Depois do acorde final?
Será que se vai,
Que se esvai?
Ou por onde entra, sai?
Onde vai dar um grande amor
Depois do desatar dos nós?
Será que é cinema, poema,
Ou só o fim do retrós?
Qual é o tempo da alegria,
se não for toda manhã?
Homem livre, céu risonho,
Cheiro doce, boca de romã?
Será fantasia, ideologia
Ou filosofia vã?
O que foi feito do meu eu
Depois que o seu me acometeu?
Heterogêneos, misturamos,
Veja só no que é que deu
Quem organiza essa bagunça
Dentro do meu coração…
Que agoniza e não entende
Uma mudança de estação
Pedaço de vida, sou massa falida,
Sou vaso sem flor
Me sopra uma brisa, me pega,
Me toca, me pisa sem dor.
Para aonde vai uma canção
Depois do acorde final?"
CURUMIM
(Djavan)

"O que era flor eu já catei pra dar
Até meus lápis de cor eu já dei
G.I.Joe já dei
O que se pensar eu já dei
minhas conchas do mar

Ah! minha flor
chega de maltratar
O que mais pode agradar a você?
Eu já fiz tudo
cadê que adiantou?
Que louco que é o amor
Tem graça viver?
Quando ele fica de mal
não quer brincar"

sexta-feira, maio 20, 2005

Arco da Velha. Andréa e Arthur relembram suas peripécias da noite anterior na boite gay.

Arthur: Quem era aquela mulher que estava dançando no tambor?

Andréa: Que mulher? Aquela magrinha?

Arthur: É.

Andréa: Aquela que você ficou desabotoando a blusa?

Arthur: (...) ??? Eu desabotoei a blusa dela?

Andréa: rs. Tava ajudando enquanto ela dançava com a gordinha. Não se lembra?

Arthur: (com a cabeça entre as mãos) Não.

Andréa: rs

Arthur: Quem era?

Andréa: A que levou a gente de carro?

Arthur: É.

Andréa: (espantada) Não era sua amiga?

Arthur: (enfático) Não.

Andréa: Pensei que você conhecesse...

Arthur: Não. Você não conhecia?

Andréa: Não. Nunca vi mais fraca de feição...

Vinte segundos de silêncio...

Arthur: Como que a gente foi parar no carro dela?

Andréa: Sei lá. Tudo que me lembro foi que a gente saiu, parou ao lado do carro, começou a conversar e a hora que ela saiu, a gente foi junto.

Arthur: Você não conhecia?

Andréa: Não, pensei que você conhecesse...

Mais alguns segundos de reavivamento de memória.

Andréa: E você ainda foi no banco da frente com ela, rolando a maior idéia.

Arthur: Puta, fui mesmo rs.

Giovana: Gente, na boa, fala a verdade, o que vocês andam tomando?.

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Mesmo dia, algumas horas depois:

Andréa socorre no banheiro a amiga que não consegue vomitar. A fim de resguardar a sua identidade, chamaremos-na de Sra G.
Sra G está debruçada sobre o vaso sanitário. Andréa, debruçada por cima, em seu momento Raposa Matreira, ampara a cabeça (pesada, mui pesada) da Sra G com o braço direito, com a mão do mesmo braço segura a tampa da privada e com a mão esquerda segura os seus cabelos.
Quando começa a tocar Doors...

Andréa: Vomita, vamos.

Sra G: Peeople aare straaannge....

Andréa: Vamos, você consegue.

Sra G: Wheen you are a straaangeeer.....

Andrea: Vomita que você melhora.

Sra G: Youu know the daayyyy

Andréa: Não. Se concentra no vômito...

Sra G: Break on throughhhhhhhhhhh

Andréa: Meu, esquece a música, vá.

Sra G: to the other siiiiideeeeeeeee

Andréa: Pense assim: Jim chapou muitas vezes, e ele sempre vomitava pra ficar bem

Sra G: try to rruun, try to riiide.

Andrea: Para de cantar e vomita, filha-da-puta.

quinta-feira, abril 14, 2005

A moça que tropica

Tenho uma sandalinha de couro marrom da qual gosto muito. Não, tempo verbal errado. Tinha uma sandalinha de couro marrom da qual gostava muito. Também não, porque ainda a tenho, ela apenas não se presta mais às suas funções iniciais.
Enfim, o que acontece é que, caminhando quase que tranqüilamente pelo meu município, levei um belíssimo tropeção, em verdade, dei uma torcida no pé que fez com que a correia de minha sandália se soltasse da sola. Como sou uma mulher muito esperta e adepta dos processos de reciclagem, considerei que poderia prender a correia por baixo da sola, dar uma gotinhazinha de nada de Super Bonder e continuar usando-a porque, com a fivelinha presa ao calcanhar, conseguia caminhar com considerável desenvoltura.
O que não contava era que, já em São Paulo, iria tropeçar de novo. Só que, desta feita, ao invés de soltar a correia de debaixo do solado, consegui partir o solado ao meio.
Agora estou aqui, dividindo minha angústia e chateação com vocês e só pensando se conseguirei chegar “calçada” ainda em Mogi, afinal, são 63 km.
Que o anjo protetor das tropeçadeiras me proteja, que eu mereço.

quinta-feira, abril 07, 2005

Miopia

Estive eu a pensar na diversão de se ser míope.
Sim, porque excetuando-se alguns inconvenientes óbvios, até que é bem divertido não enxergar direito. A gente “vê” coisas que mais ninguém consegue.
Só é ruim quando encontramos pessoas que prazerosamente, tudo me leva a crer, destroem a poesia do não-ver com suas concretizações. Uma vez, por exemplo, saí do banheiro do bar da Gi e da Fabinha Querida toda feliz, dando rodopios e balançando os braços, dizendo “Nossa, que legal. Tem uma borboleta preta no banheiro que ficou o maior tempão olhando pra mim, muito tranqüila. Acho que terei sorte.”. Giovana, como sempre, exercitando o desagrado, arruína minha alegria pueril dizendo (entre risos): “Não é uma borboleta, é um pedaço de saco de lixo.” Eu acho que, sinceramente, não precisava dessa informação.
Estou pensando nessas coisas porque via do outro lado da Av. Paulista umas coisas amarelas penduradas num muro e sempre estive certa de que se tratavam de cachos de banana nanica. Aí hoje precisei caminhar do outro lado e, sem querer, acabei descobrindo que são só umas coisinhas amarelas com números, imagino eu que pra colocar sobre os carros a fim de se facilitar a vida dos manobristas. Não fiquei tão decepcionada como quando do episódio da borboleta (inda mais que a culpa, nesse caso, foi minha) mas penso que a Paulista ficaria muito mais humanizada com bananas penduras nas portarias dos prédios.
Comumente confundo hidrantes com anões. E sacos de lixo (esses cheios), com cachorros e gatos, dependendo de quantos litros o saco seja.
Agora a coisa mais legal, mais mágica, supimpa mesmo, de se ver quando se é míope são as luzes. Elas não ficam só luzes assim concentradas como vocês todos – os de boa visão – as vêem. Elas se espalham, formando grandes círculos iluminados. Quando são coloridas então... Por isso mesmo é que uma das coisas de que mais gosto nessa vida é de pisca-pisca. Por mim, decoração de Natal seria o ano todo. Tudo muito feliz e colorido e piscante. Sou capaz de ficar horas diante de uma árvore. Uma vez, fiquei tão deslumbrada com um que ficava numa sobreloja que tropecei, caí e dei com a cabeça na porta de uma peixaria.
Mas isso não vem ao caso. É, não vem não.

quinta-feira, março 31, 2005

Dêem uma olhada aqui Cinco Contra Um.
Blog novo, coletivo (adoro blogs coletivos), muito bom.
Tem texto meu também como convidada da semana.

terça-feira, março 15, 2005

Crônicas do Caminhar (ou coisas para se pensar quando se é obrigada a andar)

Final de tarde, horário de verão. Estava indo pro trabalho atrasadíssima, pra variar, rogando a deus que me enviasse um ônibus para que se simplificasse um pouco a minha via crucis.
Nisso, passa o meu ônibus preferido, o mais-que-perfeito do transporte coletivo... duas quadras de onde eu estava. Procurei então explicar de novo pra deus, bonitinho, que o veículo deveria estar chegando ao ponto pelo menos junto comigo, senão não adiantaria muito, etc e tal. Estou quase chegando na esquina do ponto, ouço um roncar de motor. Felicidade, expectativa... é ele?!?!?! Paro na esquina, olho; o ônibus lá no semáforo, paradinho, me esperando chegar. Seu ponto final: em frente ao meu trabalho. Só um pequeno detalhe me atrapalharia a felicidade: não aceitava os meus passes.
Vou eu de novo explicar pra deus a diferença entre municipal e intermunicipal, diferenças monetárias, vale-transporte e adjacências, com a maior paciência, tudo muito rico em detalhes, coisa e tal, que era pra ele entender bem do direitinho.
Outro ônibus vira a esquina: “Ah, aprende rápido, heim nego?”
Era o mesmo. Que o outro. O que não aceitava o meu passe. Toda a minha categórica explicação ignorada, lançada às traças celestes.
Aí comecei a xingar, lógico. Que aquilo não se fazia. Que eu não era lá muito devota mesmo mas aquilo também já era demais. Ofendi. Ah, falei mesmo. Falei que pra mim ele não passava de... de um alter ego mal resolvido. Falei que ele não passava de muleta da humanidade.
Puxa, eu PEDI, eu EXPLIQUEI, para que não houvessem duvidas a respeito das minhas preces. E o que “Ele” fazia? Tirava uma onda com a minha cara.
Agora, isso também não poderia ficar assim, porque eu queria, na verdade, eu
EXIGIA um ressarcimento daquele ultraje a que ele havia me feito passar.
Bom, está certo que eu até que estava tendo uma semana muito boa, havia conseguido algumas coisas que de há muito estava querendo, mas não era justo. Sei lá, queria qualquer coisa, ver uma pessoa bonita, uma coxinha com catupiry de verdade, ele que se virasse.
A esta altura do campeonato, no auge das minhas reinvidicações, após ter desistido, inclusive, de tomar um ônibus, passo pela praça. Praça... árvores...é, pois é isso mesmo. Pluft! Bem na minha cabeça. “Oh ira negra que me consome!!”.
Mas seria ou não seria? E a coragem de conferir? Claro, com o senso de humor que o cara tinha, boa coisa é que não poderia ser. Se fosse aquilo, eu iria ficar com a mão toda suja e nojenta, o que só iria piorar a minhas situação. Bom, poderia ser uma frutinha, uma semente meio pesada, sejamos plausíveis.
Andei vários metros com aquela coisa não identificada nos cabelos até que o pânico me dominou: e se fosse... um bicho? Lá, grudado nos meus cabelos, tão perto de mim... Arph!!! Aquela palhaçada já havia ultrapassado todos os limites.
Dei um tapa no cabelo. Senti. Não era aquilo. Menos mal. Mas poderia ter sido um bicho, ah, poderia.
Quase podia ouvir as Suas gargalhadas, divertido que era aquilo tudo.
Estava quase me empolgando e começando a xingar de novo mas considerei ser mais razoável ficar quieta já que Alguém tem uma personalidade que não prima exatamente pelo bom senso.
Depois, ainda reclama que os homens estão perdendo a fé.
Faça-me o favor...

quarta-feira, março 09, 2005

Os Grandiloqüentes Também Amam - capítulo II

OS GRANDILOQÜENTES TAMBÉM AMAM
Una novela de Andréa Muroni e Julio Castro
Participação especial de Marpessa de Castro

No capítulo anterior, Soraya Guadalupe ria misteriosamente, enquanto Carmelita Augusta e Pablo Roberto se desentendiam mais una vez.
Carmelita Augusta, indignada, com os lábios trêmulos, chorosa, mas sem borrar a maquiagem, corre atrás de Pablo Roberto, que se volta, em close.

Carmelita Augusta: Quer dizer então que o senhor acha que yo devo me atualizar no que concerne à la cultura mexicana? Há, Há, Há, Há, Há de novo. Além de torpe, o senhor es demodé. Chispita e Os Ricos tbém Choram estão más do que ultrapassados. Jamás ouviste falar em Beth, a Feia? O em Pedro, lo Escamoso? O, ainda en lo ar, Alegrifes e Rabujos? Atualize-se o senhor, senhor Pablo Roberto. El dia em que, caso os anjos digam amém e iluminem su desditoso caminho, o senhor tiver la grandissíssima honra de confabular novamente com el adorável e belo ser que soy, terá a oportunidade de ver que paira alreredor de mi, la aura magnífica de Guadalajara. Inclusive, pretendo tentar la vida em Puebla ou em Cuernavaca como roteirista. E yo posso saber pq o senhor liga para mim e fala com Fabrícia? Humpf digo yo.

Pablo Roberto: Pudera, Senhora Carmelita Augusta Muroñi, espantar-se com el fatídico gosto no que se refere a cultura pós-moderna e underground mexicana...Las 'pérolas' que descrevestes em su tão erudita confabulación, no passam de meras obras superficiales e 'tennager' para adolescentes sexualmente desafortunadas. Yo esperava mais de usted. Afinal, una senhora que em primeiro momento se apresenta tão nobre e retentora de uno talento verossímil, jamás poderia chamar 'Los Ricos também Choram' de dèmodé y menosprezar la magnífica obra dramática de 'Chispita'. Essas modernidades que acometem la dramaturgia de raíz vindas del México cegaram-na como a milhares de personas. Recuso-me, a partir de ahora, discutir contigo qualquer linha dramática referente à persongem Michelina de la novela 'Jerônimo', las artimanhas idiossincráticas por trás de 'La Cortina de Vidro' e jamé tecerei comentários sobre la metalingüistica empregada em “Mi hijo, mi vida”.
Mas.... (rufam los tambores e lo close fecha, ora em uno, ora em otra)... lanço mão de uno desafio: analise las entrelinhas de la Professora Helena, encontre todas las passagens gnosiológicas e depois venga tentar manter uno diálogo decente comigo!!!! Por hora abro mano de los 'humpfs' já tão clichês em las conversas de nosotros.

Carmelita Augusta, com os ojos rasos d’água, faz no com la cabeça.

Pablo Roberto chega em su casa, bate la puerta, lança-se à cama y deixa cair una lágrima em close enquanto sobe una música latina com a expressão 'mi coracion esta partido' tocada com o violino em escala de lá-mayor.
(continua no próximo capítulo)

domingo, fevereiro 20, 2005

Vou contar uma coisa que pra mim foi realmente traumática.
Estava eu, domingo a tarde, blogando tranquilamente, quando olho para fora do escritório e vejo várias pombas, deveriam ser umas três, placidamente pousadas sobre o murinho da escada.
Fiquei desesperada porque ODEIO pombas e pensei que pudesse estar ocorrendo alguma frente de invasão por parte das mesmas.
Comecei então a gritar por socorro para minha tia que mora aqui atrás. Como sou pessoa infinitamente ingênua, tive esperanças de que pudesse obter ajuda de outrém mas, mais uma vez, a compaixão alheia negou-se a mim.
Pois voltemos aos fatos. Tentei espantar as pombas com gritos e menções à minha falta de amor por elas mas tudo o que consegui foi que elas voassem por todos os lados, adentrando os nossos quartos e pousando em meus tão queridos livros e demais etceteras.
Minha tia então veio ver o que ocorria e me sugeriu subir o vidro da janela do escritório. Ao realizar tal tarefa, entremeada por muitas vociferações, uma delas, em crise histérica, grudou nos meus cabelos o que me fez imediatamente 1) soltar a janela, 2) gritar ainda mais e 3) começar a chorar.
Fiquei abaladíssima, de repente senti-me num remake dOs Pássaros, de Hitchcock, com aquele parasita alado batendo suas asas piolhentas por sobre minhas madeixas.
O auxílio que obtive de minha parenta co-sanguínea foi a título de maior humilhação: ela pediu-me para parar porque estava fazendo xixi nas calças de tanto rir ao que, prostrada, lancei-me ao colchão que me faz as vezes de cama a fim de derramar meu pranto.
As pombas saíram mas passei o resto do dia sentindo que centenas de piolhos passeavam seus germes em mim...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Estou de luto dos meus sonhos.
Peço licença aos amigos: preciso morrer um pouco pra depois poder nascer de novo.

And

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Impressões sobre a Av. Paulista e imediações

- Quase nunca vejo crianças. Talvez umas três por semana, quando muito. Aqui só tem gente grande, parece;
- Há poucos mendigos pelas ruas; mês passado vi dois dormindo na rua com travesseiros. Sei que a Giovana vai me xingar por isso mas morri de inveja (tanto sono eu tenho...). Tem um que vi duas vezes e que anda com uma gaveta com os seus pertences, incluindo um cobertor. Tem outro que fica na esquina da Maceió com uma placa dizendo que é artista e escreve livros e revistas, pedindo uma ajuda (é uma idéia...). E hoje vi outro que relatarei abaixo;
- NUNCA, mas nunca mesmo, vi um bicho sequer solto na rua. Minha amiga disse que a carrocinha deve passar recolhendo os corpos antes de eu chegar (que maldade). Há apenas alguns donos, mas bem poucos, com cães cheirosos e encoleirados de pet shop. Hoje vi um com um mendigo. Ele estava amarrado com uma corda, sim, uma corda, cheia de nós. Talvez seu nome seja Tiradentes, não sei...
- Não há nenhuma praça onde eu possa me sentar e ler algo tranqüilamente. Pra baixo do final da Angélica há uma rua que faz um balão e tem árvores. Fui passear lá hoje por hora do almoço para arejar minhas confusas idéias e creio ter podido sentir cheiro de frutas.
- Em resumo: por aqui só há prédios, carros, buzinas, fumaça e pessoas apressadas. Muito, muito deprimente para uma pobre poetisa que tanto ama o vento...

sábado, fevereiro 05, 2005

Eu poderia ter morrido.

O Juá, meu namorado, pediu pra eu desligar a caixa de força pra ele poder mexer nuns troços lá em casa. Quando fui ligar de novo, tomei um choque. Na verdade, dois choques. Dois não, três. O primeiro foi o elétrico. O segundo foi quando olhei pra minha mão e vi que ela estava preta. Fiquei tão nervosa, sabem, saí gritando: “Jú, Jú, minha mão tá preta!!!”Assim, depois que olhei direito, vi que só era sujeira, mas e o susto? Uma pessoa não tem mais o direito de se confundir?Acho que era absolutamente plausível que tivesse acontecido pois, todo o mundo sabe que choque preteja, a gente aprende isso desde cedo nos desenhos animados.Daí foi que veio o terceiro choque: meu namorado ficou me tirando, repetindo “Jú, Jú”, com voz de bobeira. Não obtive o apoio dele após um momento de tamanha sofreguidão.Claro que fico um pouco mais tranqüilizada sabendo que era apenas sujeira, mas poderia não ser.Poderia não ser e ninguém iria me consolar...

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

OS GRANDILOQUENTES TAMBÉM AMAM

OS GRANDILOQÜENTES TAMBÉM AMAM
Uma novela de Andréa Muroni e Júlio Castro
Participação especial Marpessa de Castro


No capítulo anterior, Pablo Roberto Caztrió, plantava a semente da discórdia entre as amigas Carmelita Augusta Muroñi e Soraya Guadalupe de Castrón, após Carmelita, num momento de imensa sofreguidão, abrir seu corazón sobre os ciúmes que Soraya, sua amiga quase de infância, andava sentindo.

Pablo Roberto: - Ola amiga Soraya Guadalupe.

Soraya Guadalupe: Ola!

Pablo Roberto: Estive yo a solicitar las ilustres divagações de nossa comum amiga Carmelita Augusta, claro que muy mais sua do que mia, sobre seu ilustre passeio à Bienal de Arte de Guadalajara, quando percebemos que ambos estivemos lá e não vimos nem a metade del negócio!! Grandiloqëntes que somos, exclamamos (crea-me) simultaneamente:- Podemos volver lá qualquer dia desses!!! E pensamos, também simultaneamente (si, eu tengo certeza que pensamos juntos, pena que nosotros não exclamamos para provar):
- A Soraya Guadalupe de Castrón é peça fundamental para tal aventura culturale!!!Sério, acredite!!Portanto, fica el convite! Seria una excelente oportunidade para nos conocermos mejor...Además, fui promovido a Personal-Maniac e así fica a situación mais segura para todos!!!Combinem los detalhes e não fique brava. Yo sempre preferi usted à ela. Você ao menos nunca me passou ninguno trote.(E que isso fique entendido apenas entre nós.)E posso jurar de pé junto que ela nada comentou sobre sua suposta crise de ciúmes!! Palabra!Adyós Soraya Guadalupe de Castrón.

Soraya Guadalupe: Adiós, Pablo Roberto Caztrió

Só que o que Pablo Roberto Caztrió não imaginava, era que Carmelita Augusta Muroñi ouvira toda a sua conversa com Soraya Guadalupe de Castrón. Carmelita surge, por detrás de uma porta, os olhos rasos d´água, as mãos trêmulas, de ombreiras...

Carmelita Augusta: E sempre preferi usted à ela. ????????? E que isso fique entendido apenas entre nosotros ???????????? Faça uno favor, pode me esquecer para todo el siempre.

Pablo Roberto: Oras... seria essa a nossa primeira briga?? Esto tudo es apenas passarinho jornalístico, como diria Mário Prata. Precisamos de unos barulhos de pratos... Algumas ovações lançadas ao arrependimento!!

Carmelita Augusta: Em primeiro lugar, essa no é la nossa primeira briga já que não haverá una segunda. Em segundo lugar, se vossa senhoria quer graça, vá ao circo ou assista ao Chaves, já que es tão fã de la teledramaturgia mexicana. Em terceiro e último lugar, se vossa intenção era me provocar, fique sabendo que el objetivo no foi atingido com sucesso. Não pense que yo esperava algo diferente de uno... maníacozinho.Tengo a dizer que, se tencionava gerar algum tipo de atrito entre Soraya Guadalupe e yo, su tiro saiu pela culatra. Ella, conforme bem sabe, já foi alertada quanto a la torpez de vossa pessoa. Ambas, juntas, já sobrevivemos a la universidade, ressacas, ciúmes e maridos imbeciles. Não es um reles... usted, que irá abalar tão bela, respeitosa y duradoura amistad.No tengo mais absolutamente nada a dizer à vossa vil, sórdida, imoral y indecorosa pessoa. Passe bién Pablo Roberto Caztrió.

Pablo Roberto: No, no, escuta-me. Já que es pra numerar, vambora: Em quarto lugar, yo não soy um 'maniacozinho'. Quantas certezas y quantas verdades verborrajadas nessa información!! O que lhe leva a afirmar tão grave acusação?! Grandiloqüente que soy não admito tal expressão. Maniacozinho, no!!! 'Personal Maniac’ Em quinto lugar... yo nunca intensionei ninguno atrito entre usted e Soraya Guadalupe de Castrón, esta tão tão nobre escritora com um sobrenombre mais nobre ainda! Quem vive lançando-a à berlinda, se no me falha la memória es la senhorita!!!

Carmelita Augusta: Oh!

Pablo Roberto: Si. E más nobre ainda tornou-se agora tal pessoa por ter sobrevivido a universidades, ressacas, ciúmes e maridos imbeciles ao lado de la senhora. No haverá no mundo dengue hemorrágica que a derrube depois dessa!!! Vai para lo céu, a Soraya, sentará ao lado de deus e ainda lhe serão pedidas desculpas por uno coro de anjos regido por nuestra senhora...

Carmelita Augusta: Como ousas?

Pablo Roberto: Cala-te!

Carmelita Augusta arregala os olhos e se encolhe de pavor.

Pablo Roberto: Em sexto lugar, detesto Chaves. No suporto o Chapollim. Prefiro las obras del underground mexicano. Una cosa mais retrô: sou fã de Chispita e colecionar de fotos de los actores de 'Os Ricos Também Choram', além de acompanhar por onde andam todas aquellas meigas criancinhas de lo 'Carrossel'. Por favor, atualize-se, Carmelita Muroñi.E em sétimo e último lugar: vou deixar de ser seu maníaco e me tornar maníaco de la Fabrícia: aquela educada e simpática moça que atende el teléfono todas las vezes que tento falar contigo!!!!! Humpf.

Carmelita Augusta: Oh, no.

Enquanto Pablo Roberto dá as costas para Carmelita Augusta, que queda-se em pranto e sofreguidão, Soraya Guadalupe ri atrás da outra porta.

Soraya Guadalupe: hehehehe Las cosas estão fervendo! Yo até já fui canonizada. hahahahaah!!!!!!Se bem que yo merecia, mesmo, o reconhecimento del Papa. Especialmente por me relacionar tão bién com pessoas estranhas como estos dos. HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ!!!!! Mal posso controlar mi esôfago, de tanto rir.

O que acontecerá agora? Será que Pablo Roberto realmente queria destruir a amizade de Carmelita Augusta e Soraya Guadalupe? Será que Soraya Guadalupe é amiga de Carmelita Augusta, pobrezinha, de verdade? Não percam a resposta para essas perguntas e o espetacular desfecho desta intrigante história de amor e de amizade no próximo post.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Vida Ferroviária

Hoje não pude me conter e comprei o “Mini Kit Vodu” com 26 agulhas e um passador de linha. Pra dizer a verdade, ainda não sei o que farei com ele porque, apesar de prendada, não costumo costurar muitas coisas.
Mas é legal, tem até uma agulha redonda.
Fiquei pensando no que é que se pode fazer com ela mas essa é uma consideração que acho que é melhor que eu guarde comigo mesma...
Não sei o que acontece entre mim e o tempo: quanto mais cedo eu saio, mais atrasada eu chego...
Aí fica aquela sangria: pega trem, pega outro, pega metrô, desce, sobe, desce, sobe, desce, Andreinha esbaforia, toc toc toc, deixando vários centímetros do salto pela Av. Paulista, toc toc toc.
Ave-Maria,. Assim a pessoa se estressa!

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Estarei eu com mania de perseguição?
Em uma semana: cortaram minha luz; o registro do chuveiro começou a vazar, fui fechar com força, toda nervosinha e dei uma volta de 720º: a torneira espanou e a resistência queimou; minha impressora não estava imprimindo, abri a tampa e algo parecido com uma pecinha importante saiu rolando; meu computador está com Mal de Alzheimer; meu gás acabou, o cifão da minha pia furou, tropecei e arranquei metade da sola da minha bota num dia de chuva enquanto ia trabalhar. Ah, também deu fungo na minha lente de contato.
Será que isso é normal?

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Assédio

6h 40 da manhã. A pobre Andreinha sobe a Rua das Casas Iguais, enquanto seu relógio biológico lança claros sinais de desaprovação temporal. À sua frente, um homem leva um poodle para passear. Seguiu seu caminho em direção à estação ferroviária quando percebeu, astuta que é, que o indivíduo lhe lançava lânguidos olhares.
Não, vamos e venhamos, que tipo de pessoa leva um cachorro para passear às SEIS DA MANHÃ e fica paquerando indefesas e sonolentas garotinhas de olhos inchados? Só mesmo esses maníacos (olá Julio) urbanos.
Doente! Tarado doente!

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Muito me comovem as coisas que brilham.
Estou trabalhando agora no centro do mundo e, a altura da Consolação por onde passo, tem dezenas de lojas de lustres. Chego a lacrimejar ao ver aqueles, lindos, com pedrinhas de cristal, brilhando com a luz do sol.
Aind vou ter um, mesmo que seja caro, mesmo que fique cafona no meu quarto. Mas vou tê-lo e vou ficar lá, horas olhando pra ele...

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Crônica

EXAME DE URINA

Estava na fila de um laboratório para fazer exame de urina. Fila do SUS, gigantesca, lá pelas tantas do meio da rua.
Dentro da bolsa, o pote com seus fluídos corporais habilidosamente protegido por uma sacolinha de supermercado.
Permaneceu ali por longas dezenas de minutos, aguardando a sua vez. A cabeça vagando; ora bobagens, ora estratégias miraculosamente elaboradas visando um atendimento rápido e com a menor margem possível de constrangimento. A fila andando e ela a observar as pessoas, ato seu costumeiro. Sentia um leve divertimento interior ao imaginar que tipo de secreções os outros poderiam estar carregando. Na verdade, por não ter mesmo coisa melhor para pensar e para afastar o mal-humor de ter de ter tido de acordar cedo para ficar esperando, preferia ocupar sua cabeça com futilidades.
Começou, então, a repassar diversas vezes o plano da entrega: aguardar que houvessem apenas duas pessoas à sua frente, retirar o infame conteúdo de sua bolsa, jogar a sacolinha na lixeira à sua esquerda e entregar o pote para a atendente. Tudo cronometrado para ficar o menor tempo possível com o potinho nas mãos, que seria melhor para todos que fosse desse jeito pois que era, digamos assim, uma pessoa propensa a atrair situações inusitadas. Claro que não ousava pensar que fosse desastrada, palavra que não constava em seu vocabulário, pelo menos não para uso próprio. Era, antes, uma perseguida pelo destino. Isso.
Após gastar valiosos minutos na observação do ambiente à sua volta, e cheia das palpitações por não encontrar-se à vontade naquele ambiente, chegou o momento de executar a sua tarefa, aparentemente muito simples.
Retirou o potinho da bolsa, aproximou-se da grande lixeira de tampa basculante posicionada ao lado do bebedouro e percebeu que seus resíduos corporais haviam vazado e que a sacola estava cheia de urina. Irritação!
“Bom”, pensou, “é só tirar a sacolinha molhada dentro da lixeira, pra não vazar tudo, e jogá-la. Simples.”
Partiu para a ação com a delicadeza que seu nojinho exigia. Com a ponta dos dedos, a tampa da lixeira semi-aberta, foi retirando a sacola besuntada de seus líquidos. Acontece que a delicadeza não era um traço exatamente marcante de seu temperamento e... o pior aconteceu: lá se foram, lixeira adentro, a sacola com o potinho junto.
Sentiu o rosto queimar. Pensando, muito do rapidamente, constatou que a lixeira tinha apenas copinhos descartáveis, não havendo, portanto, muitos problemas de ordem higiênica se introduzisse sua mão lá dentro a fim de resgatar aquele infeliz fugitivo.
Foi colocando a mão, o peito aos borbotões. Constatou uma segunda coisa: o potinho cheio, por uma ironia das leis da física, era mais pesado que os copinhos vazios. Começou a praguejar interiormente, o rosto ainda mais quente e, possivelmente, muito vermelho.
Introduziu um pouco mais o braço mas este movimento, aliado à força da gravidade só fez com que o pote adentrasse ainda mais a lixeira. Aí começou mesmo a xingar. Por dentro, todas as imprecações que pôde foram proferidas. Não julgo ser necessário explicitar os vocábulos utilizados, devo apenas dizer que possuía uma certa propensão natural às palavras de baixo calão. O que de mais chulo, em se tratando de impropérios, foi dito naquele momento por ela.
Começou a suar. E a situação se repetindo: quanto mais colocava o braço, mais o potinho descia. E nisso permaneceu até que se encontrou no patético de estar com o braço todo, t o d i n h o, afundado na lixeira. E nem sinal do pote, nem um contato deste com seus dedos.
Quando caiu em si, achou por bem desistir da empreitada, já tinha se exposto mais que o suficiente por uma manhã.
Ergueu-se e deu de cara com a atendente:
- Pois não? (cara de paisagem)
Era já a próxima da fila e solicitou, cheia de soberba:
- Um potinho para exame de urina, por favor.
Pegou o novo potinho e quase saiu correndo, os olhos bêbados a fim de não fitar ninguém da fila.
Ainda pôde ouvir, numa inconveniente e desnecessária solicitude:
- Só para pegar o coletor, não é preciso ficar na fila.