terça-feira, março 15, 2005

Crônicas do Caminhar (ou coisas para se pensar quando se é obrigada a andar)

Final de tarde, horário de verão. Estava indo pro trabalho atrasadíssima, pra variar, rogando a deus que me enviasse um ônibus para que se simplificasse um pouco a minha via crucis.
Nisso, passa o meu ônibus preferido, o mais-que-perfeito do transporte coletivo... duas quadras de onde eu estava. Procurei então explicar de novo pra deus, bonitinho, que o veículo deveria estar chegando ao ponto pelo menos junto comigo, senão não adiantaria muito, etc e tal. Estou quase chegando na esquina do ponto, ouço um roncar de motor. Felicidade, expectativa... é ele?!?!?! Paro na esquina, olho; o ônibus lá no semáforo, paradinho, me esperando chegar. Seu ponto final: em frente ao meu trabalho. Só um pequeno detalhe me atrapalharia a felicidade: não aceitava os meus passes.
Vou eu de novo explicar pra deus a diferença entre municipal e intermunicipal, diferenças monetárias, vale-transporte e adjacências, com a maior paciência, tudo muito rico em detalhes, coisa e tal, que era pra ele entender bem do direitinho.
Outro ônibus vira a esquina: “Ah, aprende rápido, heim nego?”
Era o mesmo. Que o outro. O que não aceitava o meu passe. Toda a minha categórica explicação ignorada, lançada às traças celestes.
Aí comecei a xingar, lógico. Que aquilo não se fazia. Que eu não era lá muito devota mesmo mas aquilo também já era demais. Ofendi. Ah, falei mesmo. Falei que pra mim ele não passava de... de um alter ego mal resolvido. Falei que ele não passava de muleta da humanidade.
Puxa, eu PEDI, eu EXPLIQUEI, para que não houvessem duvidas a respeito das minhas preces. E o que “Ele” fazia? Tirava uma onda com a minha cara.
Agora, isso também não poderia ficar assim, porque eu queria, na verdade, eu
EXIGIA um ressarcimento daquele ultraje a que ele havia me feito passar.
Bom, está certo que eu até que estava tendo uma semana muito boa, havia conseguido algumas coisas que de há muito estava querendo, mas não era justo. Sei lá, queria qualquer coisa, ver uma pessoa bonita, uma coxinha com catupiry de verdade, ele que se virasse.
A esta altura do campeonato, no auge das minhas reinvidicações, após ter desistido, inclusive, de tomar um ônibus, passo pela praça. Praça... árvores...é, pois é isso mesmo. Pluft! Bem na minha cabeça. “Oh ira negra que me consome!!”.
Mas seria ou não seria? E a coragem de conferir? Claro, com o senso de humor que o cara tinha, boa coisa é que não poderia ser. Se fosse aquilo, eu iria ficar com a mão toda suja e nojenta, o que só iria piorar a minhas situação. Bom, poderia ser uma frutinha, uma semente meio pesada, sejamos plausíveis.
Andei vários metros com aquela coisa não identificada nos cabelos até que o pânico me dominou: e se fosse... um bicho? Lá, grudado nos meus cabelos, tão perto de mim... Arph!!! Aquela palhaçada já havia ultrapassado todos os limites.
Dei um tapa no cabelo. Senti. Não era aquilo. Menos mal. Mas poderia ter sido um bicho, ah, poderia.
Quase podia ouvir as Suas gargalhadas, divertido que era aquilo tudo.
Estava quase me empolgando e começando a xingar de novo mas considerei ser mais razoável ficar quieta já que Alguém tem uma personalidade que não prima exatamente pelo bom senso.
Depois, ainda reclama que os homens estão perdendo a fé.
Faça-me o favor...

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