quinta-feira, abril 14, 2005

A moça que tropica

Tenho uma sandalinha de couro marrom da qual gosto muito. Não, tempo verbal errado. Tinha uma sandalinha de couro marrom da qual gostava muito. Também não, porque ainda a tenho, ela apenas não se presta mais às suas funções iniciais.
Enfim, o que acontece é que, caminhando quase que tranqüilamente pelo meu município, levei um belíssimo tropeção, em verdade, dei uma torcida no pé que fez com que a correia de minha sandália se soltasse da sola. Como sou uma mulher muito esperta e adepta dos processos de reciclagem, considerei que poderia prender a correia por baixo da sola, dar uma gotinhazinha de nada de Super Bonder e continuar usando-a porque, com a fivelinha presa ao calcanhar, conseguia caminhar com considerável desenvoltura.
O que não contava era que, já em São Paulo, iria tropeçar de novo. Só que, desta feita, ao invés de soltar a correia de debaixo do solado, consegui partir o solado ao meio.
Agora estou aqui, dividindo minha angústia e chateação com vocês e só pensando se conseguirei chegar “calçada” ainda em Mogi, afinal, são 63 km.
Que o anjo protetor das tropeçadeiras me proteja, que eu mereço.

quinta-feira, abril 07, 2005

Miopia

Estive eu a pensar na diversão de se ser míope.
Sim, porque excetuando-se alguns inconvenientes óbvios, até que é bem divertido não enxergar direito. A gente “vê” coisas que mais ninguém consegue.
Só é ruim quando encontramos pessoas que prazerosamente, tudo me leva a crer, destroem a poesia do não-ver com suas concretizações. Uma vez, por exemplo, saí do banheiro do bar da Gi e da Fabinha Querida toda feliz, dando rodopios e balançando os braços, dizendo “Nossa, que legal. Tem uma borboleta preta no banheiro que ficou o maior tempão olhando pra mim, muito tranqüila. Acho que terei sorte.”. Giovana, como sempre, exercitando o desagrado, arruína minha alegria pueril dizendo (entre risos): “Não é uma borboleta, é um pedaço de saco de lixo.” Eu acho que, sinceramente, não precisava dessa informação.
Estou pensando nessas coisas porque via do outro lado da Av. Paulista umas coisas amarelas penduradas num muro e sempre estive certa de que se tratavam de cachos de banana nanica. Aí hoje precisei caminhar do outro lado e, sem querer, acabei descobrindo que são só umas coisinhas amarelas com números, imagino eu que pra colocar sobre os carros a fim de se facilitar a vida dos manobristas. Não fiquei tão decepcionada como quando do episódio da borboleta (inda mais que a culpa, nesse caso, foi minha) mas penso que a Paulista ficaria muito mais humanizada com bananas penduras nas portarias dos prédios.
Comumente confundo hidrantes com anões. E sacos de lixo (esses cheios), com cachorros e gatos, dependendo de quantos litros o saco seja.
Agora a coisa mais legal, mais mágica, supimpa mesmo, de se ver quando se é míope são as luzes. Elas não ficam só luzes assim concentradas como vocês todos – os de boa visão – as vêem. Elas se espalham, formando grandes círculos iluminados. Quando são coloridas então... Por isso mesmo é que uma das coisas de que mais gosto nessa vida é de pisca-pisca. Por mim, decoração de Natal seria o ano todo. Tudo muito feliz e colorido e piscante. Sou capaz de ficar horas diante de uma árvore. Uma vez, fiquei tão deslumbrada com um que ficava numa sobreloja que tropecei, caí e dei com a cabeça na porta de uma peixaria.
Mas isso não vem ao caso. É, não vem não.