quinta-feira, abril 07, 2005

Miopia

Estive eu a pensar na diversão de se ser míope.
Sim, porque excetuando-se alguns inconvenientes óbvios, até que é bem divertido não enxergar direito. A gente “vê” coisas que mais ninguém consegue.
Só é ruim quando encontramos pessoas que prazerosamente, tudo me leva a crer, destroem a poesia do não-ver com suas concretizações. Uma vez, por exemplo, saí do banheiro do bar da Gi e da Fabinha Querida toda feliz, dando rodopios e balançando os braços, dizendo “Nossa, que legal. Tem uma borboleta preta no banheiro que ficou o maior tempão olhando pra mim, muito tranqüila. Acho que terei sorte.”. Giovana, como sempre, exercitando o desagrado, arruína minha alegria pueril dizendo (entre risos): “Não é uma borboleta, é um pedaço de saco de lixo.” Eu acho que, sinceramente, não precisava dessa informação.
Estou pensando nessas coisas porque via do outro lado da Av. Paulista umas coisas amarelas penduradas num muro e sempre estive certa de que se tratavam de cachos de banana nanica. Aí hoje precisei caminhar do outro lado e, sem querer, acabei descobrindo que são só umas coisinhas amarelas com números, imagino eu que pra colocar sobre os carros a fim de se facilitar a vida dos manobristas. Não fiquei tão decepcionada como quando do episódio da borboleta (inda mais que a culpa, nesse caso, foi minha) mas penso que a Paulista ficaria muito mais humanizada com bananas penduras nas portarias dos prédios.
Comumente confundo hidrantes com anões. E sacos de lixo (esses cheios), com cachorros e gatos, dependendo de quantos litros o saco seja.
Agora a coisa mais legal, mais mágica, supimpa mesmo, de se ver quando se é míope são as luzes. Elas não ficam só luzes assim concentradas como vocês todos – os de boa visão – as vêem. Elas se espalham, formando grandes círculos iluminados. Quando são coloridas então... Por isso mesmo é que uma das coisas de que mais gosto nessa vida é de pisca-pisca. Por mim, decoração de Natal seria o ano todo. Tudo muito feliz e colorido e piscante. Sou capaz de ficar horas diante de uma árvore. Uma vez, fiquei tão deslumbrada com um que ficava numa sobreloja que tropecei, caí e dei com a cabeça na porta de uma peixaria.
Mas isso não vem ao caso. É, não vem não.

5 comentários:

Anônimo disse...

verde e úmida, com suas mangueiras e pastas de dentes.

Anônimo disse...

você é a criatura mais engraçada que eu conheço...ri da própria desgraça, sem a menor culpa disso!! Amo vc por isso (e por outras coisas também)

GiGi disse...

Eu só não consigo deixar alguém no engano ... vai de vc olhar e ver a verdadeira poesia, do feio pedaço de plástico velho e lagarta querendo ser borboleta :P

Gley disse...

Adorável história. Sou míope também, mas não tenho essa boa vontade toda. :)

Mapie disse...

eu avisei ao Gilzinho que você era também verde e úmida. creio que depois disso ele se convenceu.

adoro a giovana por ter acabado com os seus sonhos e ter te informado acerca da natureza, digamos, "plástica", da sua borboleta preta. andrea, muitas vezes nós, pessoas de pouca visão, precisamos da verdade. mas concordo com voc}e quanto às luzes. parece que os postes de iluminação estão chorando.