Tenho verdadeira paixão por esta música por ter uma das características que mais prezo em uma canção: me dá vontade de sair viajando, estradas e vento no rosto e nos cabelos, muita luz, sol a pino.
Boxers - Smiths
"Losing in front of your home crowd
You wish the ground
Would open up and take you down
And will time never pass ?
Will time never pass for us ?
Your weary wife is walking away
Your nephew is true well, he thinks
The world of you and I
Have to close my eyes
Losing in front of your home town
The crowd call your name
They love you all the same
The sound, the smell, and the spray
You will take them all away
And they'll stay
Till the grave
Your weary wife is walking away
Your nephew, is true well, he thinks
The world of you and I
have to close my eyes
Losing in your home town
Hell is the bell
That will not ring again
You will return one day
Because of all the things
That you see
When your eyes close
Your weary wife - walking away
Your nephew, it's true he still thinks
The world of you and I have to dry my eyes
Oh ... "
Bobagens e pensamentinhos... e como nem só de bobeira se vive, veja também muroni.blogspot.com, poemas, e o novo estruturanatural.blogspot.com, escritos...
segunda-feira, novembro 29, 2004
Eduardo Galeano
Estou absolutamente embevecida com o livro Bocas do Tempo, de Eduardo Galeano. São pequenas histórias entrelaçadas de forma muito tênue, temas aparentemente simples, mas deveras profundos.
Um jeito de escrever que tenho buscado de tempos para cá: poucas palavras, linguagem coloquial, porém, cercada de poesia.
É a própria simplicidade.
Os Sete Pecados Capitais
"De joelhos no confessionário, um arrependido admitiu que era culpado de avareza, gula, luxúria, preguiça, inveja, soberta e ira:
Jamais me confessei. Eu não queria que vocês, os senhores padres, gozassem mais que eu com meus pecados, e por avareza os guardei para mim.
Gula? Desde a primeira vez que a vi, confesso que o canibalismo não me pareceu tão mau assim.
É luxúria isso de entrar em alguém e perder-se lá dentro e nunca mais sair?
Aquela mulher era a única coisa no mundo que não me dava preguiça.
Eu sentia inveja, inveja de mim. Confesso.
E confesso que depois cometi a soberba de acreditar que ela era eu.
E quis romper esse espelho, louco de ira, quando não me vi."
(in p. 18: GALEANO, Eduardo. Bocas do Tempo. Porto Alegre: L&PM, 2004. 352 p.)
sexta-feira, novembro 26, 2004
Adoro a Ceumar. Tão bonitinha, com aquela voz doce sempre falando de Amor de um jeito feliz.
Isso me lembra um show dela que vi esses dias lá na Consolação e, enquanto estava no banheiro, ouvi duas meninas reclamando sobre o set list de Ceumar, que só fala de Amor. E tem assunto mais pertinente neste mundo? Vivemos pra Amar, amar e ser feliz, amar e aprender, amar e errar, amar e crescer, amar e chorar, amar e conquistar, amar e amar e amar. Tontas. Se não queriam ver beleza não deveriam ter entrado no jardim. Deveriam é ter ido pra algum show de Hard Core, melhor, de black metal ovacionar o declínio e a negatividade.
Não gosto das impressões pessimistas das pessoas que, por não amarem, as mantém em relação ao Amor. Sei que às vezes a gente fica mesmo muito puta com o coração, mas ficar urubuzando os outros é mal. Dá a impressão que vc tem culpa por estar sendo feliz. Já senti várias vezes isso, a ponto de ter de disfarçar meu Amor pelo Jú pra não ofender um ou outro. Agora, como saí quase que definitivamente de convívio social, não preciso mais me dar a este trabalho.
Por exemplo, a Ana Carolina. Tem uma voz legal, forte, mas é um poço de rancor que nunca vi. Um repertório triste, que só fala em decepções e abandonos. Triste de tudo. Um dia, de noite, o Jú estava tocando e estava sozinha em casa esperando por ele. Inventei de ouvir um cd dela, meu, horrível, surtei grandão, fiquei com uma impressão péssima da vida (sou impressionável), comecei a chorar, me derrubou. A impressão que tive foi a de que iríamos nos separar em 40 minutos, que nossa vida toda juntos era uma mentira, tudo falso, tudo mágoa. Negativamente contagiante. (pobre Juá quando chegou, pra entender o que estava acontecendo e pra me convencer de que não estávamos às vias do fim do paraíso).
Já o Otto se apaixonou pela Alessandra Negrini e fez, na minha opinião, o melhor de seus discos. Continuou a linha adotada no Condon Black e se encheu de lirismo. Um puta de um disco lindo, com a paixão exalando por todas as notas. Você ouve e tem vontade de se apaixonar ou de abraçar, muito, o ser amado.
Enfim, eu estou FELIZ porque eu AMO e estou feliz porque um grande amigo meu, que me ganhou muito rapidinho, também está AMANDO e tenho certeza de que tudo vai dar certo para eles.
Bébézinho, luz pra vocês!!!!!!
Vou colocar uma música do Zeca Baleiro que ficou conhecida na bela voz de Ceumar e que considero uma maravilha de brincadeira linguística, um belo jogo poético e idiomático.
Dindinha - Cantiga(Zeca Baleiro/1996)
Flower não é flor
Mas eu te dou meu amor, little flower
Sete cravos, sete rosas, liro-liro lê, liro-liro lá
Girândolas, girândolas
Give me your love
Love me alive
Leve me leve
Nas asas da borboleta leta
Que borbole bole - bole
Sol que girassole, sole mio amore
Flore me now and forever
Never more flores
Never more flores
quinta-feira, novembro 25, 2004
Coesão e coerência
Imagine a seguinte situação: sua família está para perder seus negócios e o homem que tem a solução em mãos lavra um contrato no qual há uma cláusula que diz que ele só assinará sua alforria se você for para a cama com ele. Detalhe: você é apaixonada pelo fulano.
O que vc faz?
a) Aceita
b) Procura um advogado e analisa juridicamente a validade de tal cláusula
c) Monta uma arena no meio de sua sala, convoca a família toda, um escrivão, seu algoz e uma platéia de pessoas, incluindo a noiva do cara. Na arena há uma cama e você, mui desinibidamente, faz um strip na frente de todos, enquanto convoca o pobre para o tete-a-tete ali mesmo, com voz de bisca telefônica e muitas metáforas futebolísticas
Pois a digníssima personagem da novela do SBT Pérola, optou pela alternativa 3. Claro que essa é a atitude que qualquer mullher em sã consciência tomaria, toda vez que recebo uma cantada, inclusive, tenho idéias parecidas.
Aliás, a novela não poderia ter outro nome. Realmente é uma pérola da teledramaturgia nacional. E a interpretação da atriz principal então... (aquela loira que teve um casamento relâmpago com o igualmente bom Fábio Jr). Extremamente convincente. Se eu não fosse tão fanfarrona, iria tentar descobrir qual escola dramática ela estudou.
Ah, na boa, sei que a novela é uma sequência de situações hipotéticas mas, vamos e venhamos, também não precisa apelar. Nunca em toda minha vida, vi aplicação mais perfeita para a teoria da Poética de Aristóteles sobre mímese e verossimelhança. Sim, aceitamos que pessoas sempre escolham a alternativa mais difícil para a realização de uma tarefa banal, que o mocinho saia do carro quebrado, sob a chuva, e deixe a mocinha sozinha com um assassino sanguinário a solta a fim de buscar ajuda mas, QUEM, meu deus, convocaria a família para transar com o cara na frente de todos?
Valha-me
O que vc faz?
a) Aceita
b) Procura um advogado e analisa juridicamente a validade de tal cláusula
c) Monta uma arena no meio de sua sala, convoca a família toda, um escrivão, seu algoz e uma platéia de pessoas, incluindo a noiva do cara. Na arena há uma cama e você, mui desinibidamente, faz um strip na frente de todos, enquanto convoca o pobre para o tete-a-tete ali mesmo, com voz de bisca telefônica e muitas metáforas futebolísticas
Pois a digníssima personagem da novela do SBT Pérola, optou pela alternativa 3. Claro que essa é a atitude que qualquer mullher em sã consciência tomaria, toda vez que recebo uma cantada, inclusive, tenho idéias parecidas.
Aliás, a novela não poderia ter outro nome. Realmente é uma pérola da teledramaturgia nacional. E a interpretação da atriz principal então... (aquela loira que teve um casamento relâmpago com o igualmente bom Fábio Jr). Extremamente convincente. Se eu não fosse tão fanfarrona, iria tentar descobrir qual escola dramática ela estudou.
Ah, na boa, sei que a novela é uma sequência de situações hipotéticas mas, vamos e venhamos, também não precisa apelar. Nunca em toda minha vida, vi aplicação mais perfeita para a teoria da Poética de Aristóteles sobre mímese e verossimelhança. Sim, aceitamos que pessoas sempre escolham a alternativa mais difícil para a realização de uma tarefa banal, que o mocinho saia do carro quebrado, sob a chuva, e deixe a mocinha sozinha com um assassino sanguinário a solta a fim de buscar ajuda mas, QUEM, meu deus, convocaria a família para transar com o cara na frente de todos?
Valha-me
Vida Ferroviária 3
Muito me interessam as questões pertinentes ao comércio informal que se dá nos trens, consumidora voraz que sou.
A partir das minhas observações, pude notar que há uma grande diferença nos itens que são comercializados de acordo com o horário.
De manhã, por exemplo, só se pode comprar chicletes e dropes. Considero pertinente e imagino que seja uma medida tomada pelo Departamento de Controle da Halitose Matinal, da prefeitura de São Paulo. Também há o menino deficiente auditivo que vende (adoro) utilíssimas canetas (2) ou conjunto de lapiseira com grafite por mísero R$1,00. Como sou extremamente viciada em canetas (não posso ver uma papelaria), sou uma ótima cliente dele. Já no final da tarde, há amendoins, chocolates e antipiréticos. Como vocês podem perceber, produtos voltados para o bem-estar do trabalhador que está voltando para casa. Afinal, depois de uma confortável viagem onde não se pode ao menos mexer os bracinhos, só mesmo com muito amendoim para... vocês entenderam, né?
De noitinha as bebidas despontam. Uma cervejinha, um amendoinzinho, happy hour ferroviária.
Quem leu os outros posts Vida Ferroviária deve se lembrar de uma questão que, na época, muito me encafifou: a utilidade do pacote com 27 agulhas. Marpessa, genial como sempre, me esclareceu. São agulhas utilizadas para vodu. Não sei como não pude pensar nisso antes; um país no qual o sincretismo religioso se faz tão presente, onde a cultura negra tão bem (felizmente) se estabeleceu, só poderia mesmo ter essa abertura às massas.
Eu já imaginei a comercialização de um kit-vodu - sou muito empreendedora. Além das agulhas, viria também uma boneca assexuada e acessórios personificantes: uma peruquinha, um pequeno pênis, e dois potinhos de guache, um amarelo e outro negro, para a devida caracterização étnica. Uma gravatinha também, pois acredito que deve ter muita gente no trem que gostaria de dar umas pinicadas no patrão. É isso.
Caso alguém se interesse em estabelecer uma parceria, podemos ir ao Sebrae já na semana que vem a fim de aproveitar a tempo a demanda do mercado.
Coisas de Marcelo
Essa foi há bastante tempo, Marcelo deveria ter uns 3 anos e estávamos no ônibus indo pro colégio dele. Detalhe importante: ele fala em volume de quem mora em cachoeira, preciso lembrá-lo a todo momento que qdo conversamos eu estou ao seu lado, não em Suzano.
- Mamãe, eu tomei banho hoje?
- (????) Tomou, agora a pouco.
- E você, tomou banho hoje?
- Marcelo, tomamos banho juntos.
- Todo mundo que está neste ônibus tomou banho hoje?
- Acredito que sim filho.
- Então, quem é que está fedendo?
- Mamãe, eu tomei banho hoje?
- (????) Tomou, agora a pouco.
- E você, tomou banho hoje?
- Marcelo, tomamos banho juntos.
- Todo mundo que está neste ônibus tomou banho hoje?
- Acredito que sim filho.
- Então, quem é que está fedendo?
quarta-feira, novembro 24, 2004
terça-feira, novembro 23, 2004
Crônica
É bem grande. Quem quiser que se habilite.
Seguro-Desemprego
Depois de longos e caprichados anos de serviços prestados à educação universitária, fui despejada de meu emprego. Obesa e sem rendas, eis me presa nas malhas da burocracia. Aviso prévio, exame médico, papéis, homologação, sindicato, advogado, carimbos, papéis, FGTS, abre conta, fecha conta, papéis, bancos, papéis, dá entrada, aguarda 30 dias, papéis, pede cartão, digita senha, pega fila, papéis, um sem fim deles. Mas nada se comparava ao pesadelo que me aguardava: o seguro-desemprego.
Tenho a impressão de ter ouvido certa vez que, se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Tive, então, uma oportunidade sem igual para comprovar quão sábia é a sabedoria popular. Em visita a uma amiga, despedida antes de mim, não só ouvi quanto adotei a “excelente” idéia de dar entrada na documentação toda em uma cidade vizinha, tranqüila e com agências vazias, o contrário de onde moramos. Não que nossa cidade seja uma megalópole, mas é um lugar com muitos clientes do Serviço Social, por assim dizer.
Ao adotar a sugestão de minha cara amiga, deixei, fatidicamente, de levar em consideração um fator imprescindível para o sucesso da operação: ela, a amiga, possui carro. Eu, não. E como também me parece, a toda ação corresponde uma reação, para o tal oásis bancário há ônibus somente de hora em hora. Tanto de ida quanto de volta. Mas, pessoa de fé que sou, encarei a empreitada; quase uma hora esperando o coletivo mais quase uma hora de viagem, senha, papéis, etc e tal, entrada dada. Uma semana depois, o retorno ao bucólico local. Mais senha, mais fila, a rotina costumeira, um mês de espera e o dinheiro poderia ser sacado, quanta facilidade, até em uma casa lotérica caso eu tivesse um cartão especial para tais operações, o qual, é claro, eu não tinha. Cartão pedido, agora era só contar estar em casa, com sorte, em umas três horas para esperar o restante dos trinta dias para o saque.
Gente, eu nunca pensei que desse tanto trabalho ser desocupada, mas não é que dá? Em meio a muitíssimas tarefas, temi até perder o prazo e me atrasar para o saque. Não o perdi e para não parecer ansiosa, ao invés de 30, fui sacar meu rico dinheirinho depois de 32 dias. Uma infinidade para uma pessoa como eu, que tem a doença da espera. Por ironia do destino, estava em outra cidade e, para achar a tal agência bancária devo ter andado uns bons de uns tantos quilômetros. Engraçado que, independente do parâmetro de distância da pessoa a quem se pede uma informação, se você é forasteiro em algum lugar, os nativos sempre vão achar que aquele lugar é perto. Pois, de cada em cada monte de quarteirões nos quais pedia informação, sempre ouvia dizer que devia seguir reto, muito lá para frente, que era longe. Bem longe. Se os nativos achavam que era longe, deveria ser quase nos limites do município vizinho. Nada animador, ainda mais quando se carrega nos braços uma sacola pesada, sob a garoa, sem guarda-chuva. Mas, são os ossos do orifício.
Finalmente encontrei o banco, nos confins do fim do mundo. Fila, cartão novo, senha, quantos números são mesmo? Achei engraçado não constar no menu do caixa eletrônico o item saldo ou saque e decidi, por bem, pedir ajuda ao funcionário de capa azul. Soube, então, que nos caixas eletrônicos nenhuma dessas operações seria possível; no banco só poderia saber se tinha dinheiro e, caso tivesse, sacá-lo, se pegasse a fila do caixa. Mas isso não seria mais possível pois as senhas para tal já se haviam esgotado. Poderia voltar no outro dia, mas bem de manhãzinha, para tentar pegar uma senha ou, se quisesse, sacar o dinheiro em qualquer casa lotérica, sim, mesmo sendo o primeiro saque. Isso era bom, afinal, devia ter passado por aproximadamente umas 27 enquanto tentava chegar à agência. Que problemas mais poderia ter?
Casa lotérica encontrada, mega sena acumulada, muitos milhões contra os centos reais que eu tentava sacar. A fila na rua (ainda garoava) era só um detalhe burlesco, afinal, dentro em pouco seria uma pessoa praticamente rica.
Seria, do verbo não serei mais. Nada de dinheiro. Já me deu um apavoro mas, que bobagem, era muito apressada também, amanhã voltaria, amanhã não, que seria feriado, depois de amanhã, não, também não, seria sábado, domingo também, há, há, há. Segunda-feira tudo estaria resolvido. Só que segunda seria um dia especial, na verdade, não poderia nem sair de casa, mas, enfim, segunda veríamos.
Veríamos, sim, talvez num futuro próximo, quem sabe? Segunda-feira, pós dia 10 feriado. Havia filas até para lamber pontas de sapato. As contas do mundo todo estavam para ser pagas. A mesma sacola nos braços, mais pesada ainda. O telefone que não parava de tocar, o compromisso estourando no horário, precisava urgentemente voltar para casa, inferno. Entrego o cartão para a mocinha muito sorridente (eu quereria me matar em meio a um movimento daquele). Ela me devolve o cartão e um recibo: sem depósito.
E assim, dias e dias se passaram, sem depósito, sem depósito, sem depósito. Um dia, cansada de ver a minha cara, a funcionária pergunta:
- Faz mais de trinta dias?
- Faz. Quase sessenta.
- Ah, então, se não veio até agora, não vem mais. Você vai ter de ir ao banco.
Era tudo o que eu queria ouvir. Bom, não deve ser nada demais, vou na agência daqui mesmo, já está tudo feito, vai ser rápido. É, isso.
Decisão tomada, lá estou eu, pela manhã, seguindo por fora do banco uma fila que não acabava nunca. Lá atrás, uma fila para pegar uma senha para entrar em outra fila. Tempo proveitoso, vi várias promoções num catálogo, aliás, vendo excelentes cosméticos por uma módica quantia, precisando, já sabem. Preenchi dúzias de cupons para o sorteio do supermercado do meu bairro, fiz cruzadas, joguei no celular, conversei, suspirei demais. Três horas depois, fico sabendo que o sistema caiu mas já está voltando. De bicicleta, dizem meus companheiros de espera. Nada como manter a esportiva em situações estressantes. Mais uns quarenta minutos e finalmente vou adentrar o recinto bancário. Senha na mão, envelope pardo a postos com todos os números que me identificam como cidadã, posso, nem acredito, entrar. Outra funcionária de capa azul me encaminha para uma ----- de uma fila maior ainda que a de fora. Tende piedade, Senhor. Lá pelas tantas, nem ousava mais olhar no relógio. Chega a minha vez. Entrego cartão, RG, cartão de Pis, credenciais do último show em que fui, tudo, para a caixa que, placidamente, após digitar duas ou três coisinhas, me diz:
- Não tem depósito.
- (misericórdia) Que não tem depósito eu já sei, eu vim aqui para saber porquê.
- Isso eu não posso lhe informar. Só na agência onde você deu entrada no seguro.
Os enfileirados atrás de mim devem ter adorado pois não passei mais de 60 segundos no caixa. Vencidos a fome, a raiva e quantos mais sentimentos negativos houvessem disponíveis para aquela situação específica, voltei para casa a fim de me preparar para o outro dia. O outro não, que seria sábado. E assim vai a vida.
Segunda-feira, dia internacional de resolver problemas, achei melhor nem me meter nessa história que já estava enrolada além da conta. Mas no outro dia estava lá, na madrugada do ponto de ônibus, a fim de empreender a minha viagem de negócios.
Não devo lhes privar de um detalhe importantíssimo para ilustrar melhor a minha condição física: no dia anterior cruzei (ida e volta) praticamente ¼ da cidade de São Paulo com o sapato mais incrivelmente desconfortável e inadequado que se possa imaginar a fim de ir a uma cerimônia cheia de poetas engravatados (onde a arte vai parar assim meu deus?) Meus pés possuíam tantas bolhas que pareciam ter pego catapora ou qualquer outra doença bexiguenta qualquer.
Pois chego ao banco, louca para me sentar e sou avisada, ao pegar a senha, pelo guri do raio do avental azul:
- Hoje está bem cheio. A senhora pode dar uma volta e retornar daqui a uma hora e meia.
Só queria me sentar no ar-condicionado e fazer tricô, descansar meus pobres pezinhos... tem algo de errado nisto?
Saí e me sentei na praça, ápice da vida social daquele lugar.
No horário marcado, volto ao banco e aguardo. Sou chamada, vou ao guichê e entrego o envelope pardo todo à funcionária; explico-lhe a situação.
Ela olha tudo com olhos enigmáticos, confere dados, digita coisas, abre pastas, consulta pessoas:
- Seu pagamento está bloqueado.
- (não me diga!) Isso eu já sei, preciso só saber porquê.
- Também não sei. Você vai ter de ir ao Ministério do Trabalho.
- E aqui em Biritiba tem um? (como posso ser tão ridiculamente inocente?)
- Biritiba? (misto de surpresa e sarcasmo) Não, meu bem, só em São Paulo.
(Pra vocês terem idéia de quão enrolada está esta história – ou minha vida – acabei de ter uma queda de energia e perder tudo o que já tinha escrito. Se quiserem, posso até sinalizar lá na frente onde estava para vocês poderem rir mais frouxamente.)
Enfim, saí da agência espumando, os pés quase gangrenados, peguei a rua errada e me perdi. Sim, a cidade é pequena, minúscula até, mas sou capaz de me perder dentro de uma bola, quanto mais numa cidade desconhecida, cegada pela raiva.
Finalmente encontrei a rodoviária, porém, ninguém sabia me informar a que horas haveria um ônibus e nem mesmo se ali havia algum banheiro.
Exploração feita, banheiro encontrado, ao erguer minha calça ouço um roncar de motor. Se perdesse...
Saí correndo, zíper aberto, escadas pelo caminho, consegui, pelo menos isso, pegar o coletivo.
Sentada onde batia o sol, ao lado de um rapaz que não parava de bufar, voltei para minha tão estimada cidade-lar.
Fui direto para a estação, aqueles bagulhos todos que fazem um barulhão quando o trem está chegando fazendo um barulhão. Ele deveria estar chegando, depressa, tinha primeiro de ligar para o tal do Ministério do Trabalho para não ir a São Paulo à toa, com essa sorte toda...
Peço um cartão telefônico, o rapaz conversa animadamente com outro, o barulhão fazendo barulho, pressa, meu filho, pego o cartão, o valor cobrado não condiz com o anotado na grande faixa amarela na lateral do guichê, deixa quieto.
Passo a catraca correndo e descubro que era só um trem de carga. Muito bem, calma, respira, vamos ligar então.
- Por favor, até que horas vocês funcionam?
- Até às 4h (engraçado como os serviços públicos tem horários adequadíssimos às necessidades do público).
- É que estou saindo de Mogi e...
- São quase duas da tarde, se você chegar aqui quatro e um, fechamos o portão independente de onde você esteja vindo.
- Tudo bem, eu só preciso saber se, chegando no horário, serei atendida. Se tem senhas e...
- Tem senha sim, mas a gente vai fechar quatro horas.
- (engoli uma grande corrente de ar para empurrar um palavrão bem mal-educado, aquele, de quatro letras) Tá, mas suponhamos que eu consiga chegar antes das quatro, mesmo tendo senha, serei atendida?
- Só se chegar antes das quatro horas.
Fui. Trem, baldeação, metrô. Na saída, a dúvida: pra que lado vou?
Lado escolhido, saio e avisto dois guardas logo à frente.
- Por favor, onde fica o Ministério do Trabalho?
- Ah, longe, bem longe, vai ter que dar a volta toda por aqui. Você deveria ter saído pelo outro lado.
- Posso entrar de novo para sair pelo lado certo?
- Não, saiu, saiu.
Ainda não entendi porque nunca há um guarda do metrô do lado de dentro para poder ajudar a quem precisa, mas...
Dei a volta toda, cruzei todo o Vale do Anhangabaú, e segui tomando informações das pessoas. Aprendi que, quando alguém diz “primeiro farol à esquerda” quer dizer “primeiro farol depois do segundo farol”. Até que, meu último informante disse as palavras mágicas: estou indo pra lá.
- De onde você é?
- De Mogi.
- Nossa!
- Mas na verdade, estou vindo de outra cidade, chamada Biritiba. É uma longa historia.
- Olha, não sei não, mas eu, se fosse você, alugaria um hotelzinho por aqui mesmo e voltaria só amanhã.
- Obrigada. (deveras animador)
Me deixou na porta. Lá dentro, a rotina, já costumeira. Conta seu caso, pega uma senha e espera pelo letreiro eletrônico para contar a história toda de novo.
Fui chamada e, mais uma vez, expliquei para a funcionária há quanto tempo havia feito o pedido e tudo o mais. Pediu meus documentos, deu uma olhadinha no computador e sentenciou:
- Seu nome é Andréa?
- Sim.
- Em 1995, você foi cadastrada como Andréia.
- ????
- Por isso seu pagamento foi bloqueado.
- Por?
- Por causa do “i”.
- Por causa de um “i”?
- É, por causa de um “i” (enfado). Agora você tira xerox dos seus documentos e me traz.
- Aqui dentro tem xerox?
- (cara de ó) Não. Só lá fora.
Saí, procurei uma copiadora, tirei as cópias e entreguei à funcionária.
- E agora?
- Agora é só aguardar, de quinze a trinta dias, para receber seu seguro.
Estou no prazo. Estou esperando. Se alguém tem amor no coração, torça para que dê certo. Ou então espere para ler o volume dois desta saga.
Tenho a impressão de ter ouvido certa vez que, se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Tive, então, uma oportunidade sem igual para comprovar quão sábia é a sabedoria popular. Em visita a uma amiga, despedida antes de mim, não só ouvi quanto adotei a “excelente” idéia de dar entrada na documentação toda em uma cidade vizinha, tranqüila e com agências vazias, o contrário de onde moramos. Não que nossa cidade seja uma megalópole, mas é um lugar com muitos clientes do Serviço Social, por assim dizer.
Ao adotar a sugestão de minha cara amiga, deixei, fatidicamente, de levar em consideração um fator imprescindível para o sucesso da operação: ela, a amiga, possui carro. Eu, não. E como também me parece, a toda ação corresponde uma reação, para o tal oásis bancário há ônibus somente de hora em hora. Tanto de ida quanto de volta. Mas, pessoa de fé que sou, encarei a empreitada; quase uma hora esperando o coletivo mais quase uma hora de viagem, senha, papéis, etc e tal, entrada dada. Uma semana depois, o retorno ao bucólico local. Mais senha, mais fila, a rotina costumeira, um mês de espera e o dinheiro poderia ser sacado, quanta facilidade, até em uma casa lotérica caso eu tivesse um cartão especial para tais operações, o qual, é claro, eu não tinha. Cartão pedido, agora era só contar estar em casa, com sorte, em umas três horas para esperar o restante dos trinta dias para o saque.
Gente, eu nunca pensei que desse tanto trabalho ser desocupada, mas não é que dá? Em meio a muitíssimas tarefas, temi até perder o prazo e me atrasar para o saque. Não o perdi e para não parecer ansiosa, ao invés de 30, fui sacar meu rico dinheirinho depois de 32 dias. Uma infinidade para uma pessoa como eu, que tem a doença da espera. Por ironia do destino, estava em outra cidade e, para achar a tal agência bancária devo ter andado uns bons de uns tantos quilômetros. Engraçado que, independente do parâmetro de distância da pessoa a quem se pede uma informação, se você é forasteiro em algum lugar, os nativos sempre vão achar que aquele lugar é perto. Pois, de cada em cada monte de quarteirões nos quais pedia informação, sempre ouvia dizer que devia seguir reto, muito lá para frente, que era longe. Bem longe. Se os nativos achavam que era longe, deveria ser quase nos limites do município vizinho. Nada animador, ainda mais quando se carrega nos braços uma sacola pesada, sob a garoa, sem guarda-chuva. Mas, são os ossos do orifício.
Finalmente encontrei o banco, nos confins do fim do mundo. Fila, cartão novo, senha, quantos números são mesmo? Achei engraçado não constar no menu do caixa eletrônico o item saldo ou saque e decidi, por bem, pedir ajuda ao funcionário de capa azul. Soube, então, que nos caixas eletrônicos nenhuma dessas operações seria possível; no banco só poderia saber se tinha dinheiro e, caso tivesse, sacá-lo, se pegasse a fila do caixa. Mas isso não seria mais possível pois as senhas para tal já se haviam esgotado. Poderia voltar no outro dia, mas bem de manhãzinha, para tentar pegar uma senha ou, se quisesse, sacar o dinheiro em qualquer casa lotérica, sim, mesmo sendo o primeiro saque. Isso era bom, afinal, devia ter passado por aproximadamente umas 27 enquanto tentava chegar à agência. Que problemas mais poderia ter?
Casa lotérica encontrada, mega sena acumulada, muitos milhões contra os centos reais que eu tentava sacar. A fila na rua (ainda garoava) era só um detalhe burlesco, afinal, dentro em pouco seria uma pessoa praticamente rica.
Seria, do verbo não serei mais. Nada de dinheiro. Já me deu um apavoro mas, que bobagem, era muito apressada também, amanhã voltaria, amanhã não, que seria feriado, depois de amanhã, não, também não, seria sábado, domingo também, há, há, há. Segunda-feira tudo estaria resolvido. Só que segunda seria um dia especial, na verdade, não poderia nem sair de casa, mas, enfim, segunda veríamos.
Veríamos, sim, talvez num futuro próximo, quem sabe? Segunda-feira, pós dia 10 feriado. Havia filas até para lamber pontas de sapato. As contas do mundo todo estavam para ser pagas. A mesma sacola nos braços, mais pesada ainda. O telefone que não parava de tocar, o compromisso estourando no horário, precisava urgentemente voltar para casa, inferno. Entrego o cartão para a mocinha muito sorridente (eu quereria me matar em meio a um movimento daquele). Ela me devolve o cartão e um recibo: sem depósito.
E assim, dias e dias se passaram, sem depósito, sem depósito, sem depósito. Um dia, cansada de ver a minha cara, a funcionária pergunta:
- Faz mais de trinta dias?
- Faz. Quase sessenta.
- Ah, então, se não veio até agora, não vem mais. Você vai ter de ir ao banco.
Era tudo o que eu queria ouvir. Bom, não deve ser nada demais, vou na agência daqui mesmo, já está tudo feito, vai ser rápido. É, isso.
Decisão tomada, lá estou eu, pela manhã, seguindo por fora do banco uma fila que não acabava nunca. Lá atrás, uma fila para pegar uma senha para entrar em outra fila. Tempo proveitoso, vi várias promoções num catálogo, aliás, vendo excelentes cosméticos por uma módica quantia, precisando, já sabem. Preenchi dúzias de cupons para o sorteio do supermercado do meu bairro, fiz cruzadas, joguei no celular, conversei, suspirei demais. Três horas depois, fico sabendo que o sistema caiu mas já está voltando. De bicicleta, dizem meus companheiros de espera. Nada como manter a esportiva em situações estressantes. Mais uns quarenta minutos e finalmente vou adentrar o recinto bancário. Senha na mão, envelope pardo a postos com todos os números que me identificam como cidadã, posso, nem acredito, entrar. Outra funcionária de capa azul me encaminha para uma ----- de uma fila maior ainda que a de fora. Tende piedade, Senhor. Lá pelas tantas, nem ousava mais olhar no relógio. Chega a minha vez. Entrego cartão, RG, cartão de Pis, credenciais do último show em que fui, tudo, para a caixa que, placidamente, após digitar duas ou três coisinhas, me diz:
- Não tem depósito.
- (misericórdia) Que não tem depósito eu já sei, eu vim aqui para saber porquê.
- Isso eu não posso lhe informar. Só na agência onde você deu entrada no seguro.
Os enfileirados atrás de mim devem ter adorado pois não passei mais de 60 segundos no caixa. Vencidos a fome, a raiva e quantos mais sentimentos negativos houvessem disponíveis para aquela situação específica, voltei para casa a fim de me preparar para o outro dia. O outro não, que seria sábado. E assim vai a vida.
Segunda-feira, dia internacional de resolver problemas, achei melhor nem me meter nessa história que já estava enrolada além da conta. Mas no outro dia estava lá, na madrugada do ponto de ônibus, a fim de empreender a minha viagem de negócios.
Não devo lhes privar de um detalhe importantíssimo para ilustrar melhor a minha condição física: no dia anterior cruzei (ida e volta) praticamente ¼ da cidade de São Paulo com o sapato mais incrivelmente desconfortável e inadequado que se possa imaginar a fim de ir a uma cerimônia cheia de poetas engravatados (onde a arte vai parar assim meu deus?) Meus pés possuíam tantas bolhas que pareciam ter pego catapora ou qualquer outra doença bexiguenta qualquer.
Pois chego ao banco, louca para me sentar e sou avisada, ao pegar a senha, pelo guri do raio do avental azul:
- Hoje está bem cheio. A senhora pode dar uma volta e retornar daqui a uma hora e meia.
Só queria me sentar no ar-condicionado e fazer tricô, descansar meus pobres pezinhos... tem algo de errado nisto?
Saí e me sentei na praça, ápice da vida social daquele lugar.
No horário marcado, volto ao banco e aguardo. Sou chamada, vou ao guichê e entrego o envelope pardo todo à funcionária; explico-lhe a situação.
Ela olha tudo com olhos enigmáticos, confere dados, digita coisas, abre pastas, consulta pessoas:
- Seu pagamento está bloqueado.
- (não me diga!) Isso eu já sei, preciso só saber porquê.
- Também não sei. Você vai ter de ir ao Ministério do Trabalho.
- E aqui em Biritiba tem um? (como posso ser tão ridiculamente inocente?)
- Biritiba? (misto de surpresa e sarcasmo) Não, meu bem, só em São Paulo.
(Pra vocês terem idéia de quão enrolada está esta história – ou minha vida – acabei de ter uma queda de energia e perder tudo o que já tinha escrito. Se quiserem, posso até sinalizar lá na frente onde estava para vocês poderem rir mais frouxamente.)
Enfim, saí da agência espumando, os pés quase gangrenados, peguei a rua errada e me perdi. Sim, a cidade é pequena, minúscula até, mas sou capaz de me perder dentro de uma bola, quanto mais numa cidade desconhecida, cegada pela raiva.
Finalmente encontrei a rodoviária, porém, ninguém sabia me informar a que horas haveria um ônibus e nem mesmo se ali havia algum banheiro.
Exploração feita, banheiro encontrado, ao erguer minha calça ouço um roncar de motor. Se perdesse...
Saí correndo, zíper aberto, escadas pelo caminho, consegui, pelo menos isso, pegar o coletivo.
Sentada onde batia o sol, ao lado de um rapaz que não parava de bufar, voltei para minha tão estimada cidade-lar.
Fui direto para a estação, aqueles bagulhos todos que fazem um barulhão quando o trem está chegando fazendo um barulhão. Ele deveria estar chegando, depressa, tinha primeiro de ligar para o tal do Ministério do Trabalho para não ir a São Paulo à toa, com essa sorte toda...
Peço um cartão telefônico, o rapaz conversa animadamente com outro, o barulhão fazendo barulho, pressa, meu filho, pego o cartão, o valor cobrado não condiz com o anotado na grande faixa amarela na lateral do guichê, deixa quieto.
Passo a catraca correndo e descubro que era só um trem de carga. Muito bem, calma, respira, vamos ligar então.
- Por favor, até que horas vocês funcionam?
- Até às 4h (engraçado como os serviços públicos tem horários adequadíssimos às necessidades do público).
- É que estou saindo de Mogi e...
- São quase duas da tarde, se você chegar aqui quatro e um, fechamos o portão independente de onde você esteja vindo.
- Tudo bem, eu só preciso saber se, chegando no horário, serei atendida. Se tem senhas e...
- Tem senha sim, mas a gente vai fechar quatro horas.
- (engoli uma grande corrente de ar para empurrar um palavrão bem mal-educado, aquele, de quatro letras) Tá, mas suponhamos que eu consiga chegar antes das quatro, mesmo tendo senha, serei atendida?
- Só se chegar antes das quatro horas.
Fui. Trem, baldeação, metrô. Na saída, a dúvida: pra que lado vou?
Lado escolhido, saio e avisto dois guardas logo à frente.
- Por favor, onde fica o Ministério do Trabalho?
- Ah, longe, bem longe, vai ter que dar a volta toda por aqui. Você deveria ter saído pelo outro lado.
- Posso entrar de novo para sair pelo lado certo?
- Não, saiu, saiu.
Ainda não entendi porque nunca há um guarda do metrô do lado de dentro para poder ajudar a quem precisa, mas...
Dei a volta toda, cruzei todo o Vale do Anhangabaú, e segui tomando informações das pessoas. Aprendi que, quando alguém diz “primeiro farol à esquerda” quer dizer “primeiro farol depois do segundo farol”. Até que, meu último informante disse as palavras mágicas: estou indo pra lá.
- De onde você é?
- De Mogi.
- Nossa!
- Mas na verdade, estou vindo de outra cidade, chamada Biritiba. É uma longa historia.
- Olha, não sei não, mas eu, se fosse você, alugaria um hotelzinho por aqui mesmo e voltaria só amanhã.
- Obrigada. (deveras animador)
Me deixou na porta. Lá dentro, a rotina, já costumeira. Conta seu caso, pega uma senha e espera pelo letreiro eletrônico para contar a história toda de novo.
Fui chamada e, mais uma vez, expliquei para a funcionária há quanto tempo havia feito o pedido e tudo o mais. Pediu meus documentos, deu uma olhadinha no computador e sentenciou:
- Seu nome é Andréa?
- Sim.
- Em 1995, você foi cadastrada como Andréia.
- ????
- Por isso seu pagamento foi bloqueado.
- Por?
- Por causa do “i”.
- Por causa de um “i”?
- É, por causa de um “i” (enfado). Agora você tira xerox dos seus documentos e me traz.
- Aqui dentro tem xerox?
- (cara de ó) Não. Só lá fora.
Saí, procurei uma copiadora, tirei as cópias e entreguei à funcionária.
- E agora?
- Agora é só aguardar, de quinze a trinta dias, para receber seu seguro.
Estou no prazo. Estou esperando. Se alguém tem amor no coração, torça para que dê certo. Ou então espere para ler o volume dois desta saga.
domingo, novembro 21, 2004
Coisas de Marcelo
(Ouvindo "Vamos Fugir", de Gilberto Gil, na versão do Skank):
"Mamãe, essa música é muito velha?"
"Não sei o ano ao certo, mas é um pouco sim."
"Eu prefiro essa versão nova".
"Por que?"
"É mais criativa que a versão do ministro."
"Mamãe, essa música é muito velha?"
"Não sei o ano ao certo, mas é um pouco sim."
"Eu prefiro essa versão nova".
"Por que?"
"É mais criativa que a versão do ministro."
sexta-feira, novembro 19, 2004
Não sei porque conto essas coisas...
Vou contar uma historinha acontecida há alguns anos, a pedido de minha querida e delatora amiga Marpessa.
Saca aquele dia em que você não tem um tostão no bolso e todos os cheiros alimentícios invadem as suas narinas? Pois é, num dia desses, hra do almoço, morta de fome e de calor, estava eu na porta de um banco, sob um sol escaldante, aguardando há pelo menos hora e meia, um “amigo” que iria trazer o $ para cobrir o rombo que ele havia feito na conta da família com um cheque emprestado.
A situação já era chata, estava brava, nervosa, com fome, cansada, suando a cântaros e o fulano não vinha.
Depois que chegou com cara de cachorrinho que caiu da mudança, tomou uma dura e eu, é óbvio, enfrentei uma grande fila para fazer o depósito. Depois do que sai, sem eira nem beira, pelas ruas da megalópole mogiana.
Então me lembrei, grande sacada a minha, que havia um carrinho de cachorro-quente nos confins do lá longe que aceitava vale-transporte. Caminhei léguas até a tal barraca, garganta seca de tanta sede e efetuei a permuta. Oxalá voltasse a política do escambo. Em troca da passagem rápida para minha casa distante, recebi uma linda, vermelha, lustrosa e suada de tão gelada, latinha de Coca-Cola.
Abri a lata e atravessei a rua para tomá-la com delícia na sombra do outro lado. Virei a lata para dar O golão. Quem me conhece sabe que curto tomar tudo aos golões, até faltar o ar. Modéstia à parte, bebo rápido e bem. Pois é, fui seca pra beber metade da lata de uma vez, preparada pra engasgar com o gás, levei a lata à boca, virei aquele líquido abençoado todo de uma vez e... junto vem a porra de uma abelha que tinha feito o favor de entrar no mísero buraquinho da lata enquanto eu atravessava a rua em êxtase pré-saciação. Coisa de segundos.
Um gosto horrível invadiu a minha boca, inda hoje não sei se era o gosto da abelha ou do seu veneno. Não sou chegada a palavrões (rãrã) mas, filha-da-puta de abelha do caralho. Cuspi toda a Coca na mesma hora, no meio da avenida cheia de gente, dividindo meus líquidos com inocentes transeuntes.
Depois, claro, o lábio (inferior) começou a inchar, inchar, formando um grotesco apêndice labial, a gengiva pulsando, o gosto que não me saia da boca.
Agora eu estava pobre, acalorada, faminta, sedenta e ainda com um beiço super étnico. Sem contar a perspectiva de andar muitos, muitos quilômetros, me acreditem, pra poder chegar em casa.
Pra piorar, precisava resolver uma pendenga com um amigo que tem um senso de humor que, nossa, ninguém merece. Em aproximadamente 10 anos, não me lembro de ter tabulado uma, que fosse, conversa inteligente com o figura. A esposa dele, minha pobre amiga, será canonizada um dia. Eu tenho fé.
Pois fui conversar com ele e tive de ficar uns quinze minutos parada, esperando-o parar de rir de pobre minha pessoa. É mais do que humilhante ter de esperar que alguém se canse de lhe enxovalhar para depois lhe dar atenção. E ver as pessoas, todas, olhando pra você com uma cara de “tadinha, tão bonitinha, tão deformada”.
Sempre quis ter lábios grossos, boca grande, sensual, mas faça-me o favor
Saca aquele dia em que você não tem um tostão no bolso e todos os cheiros alimentícios invadem as suas narinas? Pois é, num dia desses, hra do almoço, morta de fome e de calor, estava eu na porta de um banco, sob um sol escaldante, aguardando há pelo menos hora e meia, um “amigo” que iria trazer o $ para cobrir o rombo que ele havia feito na conta da família com um cheque emprestado.
A situação já era chata, estava brava, nervosa, com fome, cansada, suando a cântaros e o fulano não vinha.
Depois que chegou com cara de cachorrinho que caiu da mudança, tomou uma dura e eu, é óbvio, enfrentei uma grande fila para fazer o depósito. Depois do que sai, sem eira nem beira, pelas ruas da megalópole mogiana.
Então me lembrei, grande sacada a minha, que havia um carrinho de cachorro-quente nos confins do lá longe que aceitava vale-transporte. Caminhei léguas até a tal barraca, garganta seca de tanta sede e efetuei a permuta. Oxalá voltasse a política do escambo. Em troca da passagem rápida para minha casa distante, recebi uma linda, vermelha, lustrosa e suada de tão gelada, latinha de Coca-Cola.
Abri a lata e atravessei a rua para tomá-la com delícia na sombra do outro lado. Virei a lata para dar O golão. Quem me conhece sabe que curto tomar tudo aos golões, até faltar o ar. Modéstia à parte, bebo rápido e bem. Pois é, fui seca pra beber metade da lata de uma vez, preparada pra engasgar com o gás, levei a lata à boca, virei aquele líquido abençoado todo de uma vez e... junto vem a porra de uma abelha que tinha feito o favor de entrar no mísero buraquinho da lata enquanto eu atravessava a rua em êxtase pré-saciação. Coisa de segundos.
Um gosto horrível invadiu a minha boca, inda hoje não sei se era o gosto da abelha ou do seu veneno. Não sou chegada a palavrões (rãrã) mas, filha-da-puta de abelha do caralho. Cuspi toda a Coca na mesma hora, no meio da avenida cheia de gente, dividindo meus líquidos com inocentes transeuntes.
Depois, claro, o lábio (inferior) começou a inchar, inchar, formando um grotesco apêndice labial, a gengiva pulsando, o gosto que não me saia da boca.
Agora eu estava pobre, acalorada, faminta, sedenta e ainda com um beiço super étnico. Sem contar a perspectiva de andar muitos, muitos quilômetros, me acreditem, pra poder chegar em casa.
Pra piorar, precisava resolver uma pendenga com um amigo que tem um senso de humor que, nossa, ninguém merece. Em aproximadamente 10 anos, não me lembro de ter tabulado uma, que fosse, conversa inteligente com o figura. A esposa dele, minha pobre amiga, será canonizada um dia. Eu tenho fé.
Pois fui conversar com ele e tive de ficar uns quinze minutos parada, esperando-o parar de rir de pobre minha pessoa. É mais do que humilhante ter de esperar que alguém se canse de lhe enxovalhar para depois lhe dar atenção. E ver as pessoas, todas, olhando pra você com uma cara de “tadinha, tão bonitinha, tão deformada”.
Sempre quis ter lábios grossos, boca grande, sensual, mas faça-me o favor
Presentinho
Este texto é pra uma grande amiga que, assim como eu, adora gatinhos.
"Lá vai gata preta, atarefada, atarefada, verificar focinhos, caudas, pêlos. [...] Gatinhos. Uma criaturinha viva na sua membrana transparente, rodeado pela imundície do seu nascimento. Dez minutos mais tarde, húmido mas limpo, já mamando. Dez dias depois, uma migalha com olhos macios e nebulosos, a boca abrindo-se num silvo de corajoso desafio à enorme ameaça que sente debruçada sobre ele. Nesta altura, em vida selvagem, confirmaria a sua selvajaria, tornando-se um gato selvagem. Mas não, uma mão humana toca-o, um cheiro humano envolve-o, uma voz humana sossega-o. Depressa sai do ninho, confiante de que as gigantescas criaturas à sua volta não lhe farão mal. Cambaleia, depois anda, depois corre a casa toda. [...] Gatinho encantador, gatinho bonito, lindo fofinho pequenino delicioso bichinho - e vai-se embora."
Doris Lessing - Gatos e mais gatos.
Doris Lessing - Gatos e mais gatos.
quinta-feira, novembro 18, 2004
Crônica
A DOR
- Estou com uma dor no céu da boca...
- Hããã?
- É. Dor no céu da boca. Na verdade é uma espécie de queimação, tipo uma azia buco-celestial, sabe ? Desde ontem.
- De onde é que você tirou isso?
- Como assim de onde tirei isso? De mim, ué, do meu corpo. Provavelmente
dos meus centros nervosos. Sou uma mulher sensível, pô!
- Você está louca.
- Louca por quê? Me dê uma razão, uma unicazinha, que comprove que meu
céu da boca não possa doer.
- Ah, razão, assim, baseada em fatos concretos, eu não tenho não; mas é que nunca ouvi falar em alguém que tenha tido dor no céu da boca.
- Nunca ouviu porque é uma inculta.
- Se você vai levar a conversa pra esse lado...
- Desculpa, foi apenas uma constatação. Veja só, eu tenho uma amiga, por exemplo, que vira e mexe tem dores nas sobrancelhas.
- Você está me tirando...
- Não estou, não. Não é sempre, ela me disse, mas periodicamente as suas sobrancelhas doem.
- Imagine, isso é tudo conversa mole.
- Não estou entendendo porque tanto ceticismo. E gratuito, heim?! Analisemos: as sobrancelhas ficam no rosto, não ficam?
- Ficam.
- E no rosto, por trás da pele, têm veias com sangue, não?
- Tem, mas o que é que tem a ver a veia com a dor?
- Como o que é que tem a ver?? Tem tudo a ver. Ainda mais que as sobrancelhas são vizinhas das têmporas que são, todo mundo sabe, muito sensíveis.
- Você já está delirando. Pra mim essa conversa não faz o menor sentido.
- Claro que faz, Val. Suponhamos que a raiz da sobrancelha encrave ou até quem sabe inflame, heim, heim? Não vai doer, é?
- Encravar vá lá, mas inflamar? Por que diabos haveria de uma raiz de sobrancelha inflamar?
- E eu é quem sei? Quem sou eu, nesta vida de mistérios, para decifrar os recôncavos segredos do corpo humano? Os desconhecidos caminhos pelos quais...
- Tá bom, tá bom, cancela a metafísica. Mas, me diga, e o céu da boca?
- Ué, também faz parte do corpo humano, tem pele e por trás da pele têm veias...
- Lá vem você com essa história de veias de novo. E o que é que faz doer? Não venha me dizer que é um dente encravado...
- Tsc, tsc, tsc, assim não há a menor condição de continuar a conversar com você. Quer saber? Vou desvendar, e vai ser agora, quais são todos os mecanismos que movem a dor pelo espetacular corpo humano e comprovar a minha teoria.
Depois de alguns minutos, ela volta, absorta, um dicionário entre os braços.
- Ahá! Ouça bem o que vou lhe dizer: “Dor: sensação desagradável, variável em intensidade e em extensão de localização, produzida pela estimulação de terminações nervosas especiais.” Heim? Pegou?
- Peguei o quê
- Como o quê?
- É só isso?
- Só isso, só isso, que é que você queria?
- Ué, pra quem saiu daqui toda emplumada, clamando aos quatro ventos que iria desvendar todos os mecanismos da dor e sei lá o que mais, me aparece agora com uma reles definição.
- Reles não senhora, que esse dicionário é conceituadíssimo.
- Está bom, mas e daí? Que raio isso tem com o céu da tua boca?
- Nossa senhora, heim? A gente também que explicar tudo, dá licença. Presta um pouco de atenção, se for possível. “(...) variável em extensão de localização” hãã?, “produzida pela estimulação de terminações nervosas especiais.”
- ???
- Bingo! É isso. Terminações nervosas especiais. Veja bem, não são quaisquer terminações nervosas, são somente as especiais.
- E quem disse que há terminações nervosas no céu da tua boca, quanto mais especiais? Ou lá na sobrancelha da fulana tua amiga?
- Nossa, como ás vezes é difícil conviver com a ignorância alheia. É claro que há terminações, senão não haveria de doer. Capitte?
- Mas pra mim não dói mesmo, acho que isso é tudo fruto dessa tua imaginação desarvorada. Mas suponhamos, olha só, eu não estou concordando com essa sandice, estou só considerando uma situação hipotética, suponhamos que realmente sua teoria tenha cabimento, essas tais terminações nervosas seriam estimuladas por...
- Comida. Só dói quando eu como. Não toda vez que como, mas tudo começou com um doce de figo, sabe, e depois até um caldinho lá que tomei me doeu e... peraí.
- Que é que foi agora?
- Olha só, olha o que achei aqui no dicionário: “Dor cansada: dor surda.”
- O ouvido está doendo também agora? Ou será o lóbulo? Já sei, já sei, encravou a cartilagem.
- Continuando: “Dor surda: dor que nem é forte nem aguda. Dor cansada”
- Santo deus, onde vai dar esse papo? Diga aí, Sherlock, qual a grande nova conclusão?
- Essa é a descrição perfeita da minha queimação. Não dói nem forte nem aguda porque é dor cansada. Claro, só pode ser isso. A dor quer doer mas está lá meio cansada, com preguiça, então não vai doer uma cabeça ou um dente, que dão muito trabalho, sabe como é, acaba doendo mesmo um céu da boca ou uma sobrancelha que são mais fáceis, né? Dói mas não é aquela coisa assim de dor. Eu acredito que ela tenha cumprido o seu papel. É. É dor, tem de doer, doeu. Assim, simples.
- Minha nossa, você endoidou de vez.
- Endoidei nada, faz muito sentido.
- Faz, faz sim. Então é isso, tá? A conversa está muito boa, deveras construtiva, mas eu já vou indo.
- Já, tão cedo...
- Pois é, meu bom senso está começando a doer.
- Cética.
- Maluca.
- Estou com uma dor no céu da boca...
- Hããã?
- É. Dor no céu da boca. Na verdade é uma espécie de queimação, tipo uma azia buco-celestial, sabe ? Desde ontem.
- De onde é que você tirou isso?
- Como assim de onde tirei isso? De mim, ué, do meu corpo. Provavelmente
dos meus centros nervosos. Sou uma mulher sensível, pô!
- Você está louca.
- Louca por quê? Me dê uma razão, uma unicazinha, que comprove que meu
céu da boca não possa doer.
- Ah, razão, assim, baseada em fatos concretos, eu não tenho não; mas é que nunca ouvi falar em alguém que tenha tido dor no céu da boca.
- Nunca ouviu porque é uma inculta.
- Se você vai levar a conversa pra esse lado...
- Desculpa, foi apenas uma constatação. Veja só, eu tenho uma amiga, por exemplo, que vira e mexe tem dores nas sobrancelhas.
- Você está me tirando...
- Não estou, não. Não é sempre, ela me disse, mas periodicamente as suas sobrancelhas doem.
- Imagine, isso é tudo conversa mole.
- Não estou entendendo porque tanto ceticismo. E gratuito, heim?! Analisemos: as sobrancelhas ficam no rosto, não ficam?
- Ficam.
- E no rosto, por trás da pele, têm veias com sangue, não?
- Tem, mas o que é que tem a ver a veia com a dor?
- Como o que é que tem a ver?? Tem tudo a ver. Ainda mais que as sobrancelhas são vizinhas das têmporas que são, todo mundo sabe, muito sensíveis.
- Você já está delirando. Pra mim essa conversa não faz o menor sentido.
- Claro que faz, Val. Suponhamos que a raiz da sobrancelha encrave ou até quem sabe inflame, heim, heim? Não vai doer, é?
- Encravar vá lá, mas inflamar? Por que diabos haveria de uma raiz de sobrancelha inflamar?
- E eu é quem sei? Quem sou eu, nesta vida de mistérios, para decifrar os recôncavos segredos do corpo humano? Os desconhecidos caminhos pelos quais...
- Tá bom, tá bom, cancela a metafísica. Mas, me diga, e o céu da boca?
- Ué, também faz parte do corpo humano, tem pele e por trás da pele têm veias...
- Lá vem você com essa história de veias de novo. E o que é que faz doer? Não venha me dizer que é um dente encravado...
- Tsc, tsc, tsc, assim não há a menor condição de continuar a conversar com você. Quer saber? Vou desvendar, e vai ser agora, quais são todos os mecanismos que movem a dor pelo espetacular corpo humano e comprovar a minha teoria.
Depois de alguns minutos, ela volta, absorta, um dicionário entre os braços.
- Ahá! Ouça bem o que vou lhe dizer: “Dor: sensação desagradável, variável em intensidade e em extensão de localização, produzida pela estimulação de terminações nervosas especiais.” Heim? Pegou?
- Peguei o quê
- Como o quê?
- É só isso?
- Só isso, só isso, que é que você queria?
- Ué, pra quem saiu daqui toda emplumada, clamando aos quatro ventos que iria desvendar todos os mecanismos da dor e sei lá o que mais, me aparece agora com uma reles definição.
- Reles não senhora, que esse dicionário é conceituadíssimo.
- Está bom, mas e daí? Que raio isso tem com o céu da tua boca?
- Nossa senhora, heim? A gente também que explicar tudo, dá licença. Presta um pouco de atenção, se for possível. “(...) variável em extensão de localização” hãã?, “produzida pela estimulação de terminações nervosas especiais.”
- ???
- Bingo! É isso. Terminações nervosas especiais. Veja bem, não são quaisquer terminações nervosas, são somente as especiais.
- E quem disse que há terminações nervosas no céu da tua boca, quanto mais especiais? Ou lá na sobrancelha da fulana tua amiga?
- Nossa, como ás vezes é difícil conviver com a ignorância alheia. É claro que há terminações, senão não haveria de doer. Capitte?
- Mas pra mim não dói mesmo, acho que isso é tudo fruto dessa tua imaginação desarvorada. Mas suponhamos, olha só, eu não estou concordando com essa sandice, estou só considerando uma situação hipotética, suponhamos que realmente sua teoria tenha cabimento, essas tais terminações nervosas seriam estimuladas por...
- Comida. Só dói quando eu como. Não toda vez que como, mas tudo começou com um doce de figo, sabe, e depois até um caldinho lá que tomei me doeu e... peraí.
- Que é que foi agora?
- Olha só, olha o que achei aqui no dicionário: “Dor cansada: dor surda.”
- O ouvido está doendo também agora? Ou será o lóbulo? Já sei, já sei, encravou a cartilagem.
- Continuando: “Dor surda: dor que nem é forte nem aguda. Dor cansada”
- Santo deus, onde vai dar esse papo? Diga aí, Sherlock, qual a grande nova conclusão?
- Essa é a descrição perfeita da minha queimação. Não dói nem forte nem aguda porque é dor cansada. Claro, só pode ser isso. A dor quer doer mas está lá meio cansada, com preguiça, então não vai doer uma cabeça ou um dente, que dão muito trabalho, sabe como é, acaba doendo mesmo um céu da boca ou uma sobrancelha que são mais fáceis, né? Dói mas não é aquela coisa assim de dor. Eu acredito que ela tenha cumprido o seu papel. É. É dor, tem de doer, doeu. Assim, simples.
- Minha nossa, você endoidou de vez.
- Endoidei nada, faz muito sentido.
- Faz, faz sim. Então é isso, tá? A conversa está muito boa, deveras construtiva, mas eu já vou indo.
- Já, tão cedo...
- Pois é, meu bom senso está começando a doer.
- Cética.
- Maluca.
Vejam esta
Saiu na Isto É de 17/11/2004, nº 1832:
- Fique longe de mim, seu poeta de quinta ordem - disse Eduardo Portella.
- Você não é de nada, é um b... - respondeu Lêdo Ivo.
Foi assim, depois de um empurrão, que começou esse mundano bate-boca entre dois imortais da Academia Brasileira de Letras: Eduardo Portella, 72 anos, e Lêdo Ivo, 80. A briga aconteceu no sábado 5, na festa de aniversário do presidente da ABL, Ivan Junqueira (AMO, AMO). Eduardo e Lêdo não se falavam (e não se xingavam) havia 15 anos.
ISTO É: - O que aconteceu?
LÊDO: Eu fui agredido pelas costas. Discutimos e eu joguei um refrescante copo de Coca-Cola naquela cabeleira indecorosa, de onde exala um cheiro nauseabundo.
EDUARDO: Houve uma trombada física e eu o empurrei. Ele não me jogou vinho nem Coca, foi água mesmo. E não é poeta de quinta, mas de vigésima categoria.
Pode uma coisa dessas?
Por isso que eu digo, poeta tem que ter direitos especiais, há de ser complacente com o poeta. A idade física não conta em nada, são (somos) todos crianças, infantilóides, bobos. 80 anos desse jeito?
Mas pago um pau. Essa do Lêdo de "cabeleira indecorosa, de onde exala um cheiro nauseabundo" é mesmo digna de um imortal. Xingamos, mas com classe gramatical.
Me lembrei das brigas de dois amigos que fizeram jornalismo comigo e com a Marpessa: o Piu e o Willians (onde andam vocês?). Lembrei-me da própria Map, também, embora as nossas brigas não incluam alusões físicas (ambas belas, não há realmente o que se dizer).
- Fique longe de mim, seu poeta de quinta ordem - disse Eduardo Portella.
- Você não é de nada, é um b... - respondeu Lêdo Ivo.
Foi assim, depois de um empurrão, que começou esse mundano bate-boca entre dois imortais da Academia Brasileira de Letras: Eduardo Portella, 72 anos, e Lêdo Ivo, 80. A briga aconteceu no sábado 5, na festa de aniversário do presidente da ABL, Ivan Junqueira (AMO, AMO). Eduardo e Lêdo não se falavam (e não se xingavam) havia 15 anos.
ISTO É: - O que aconteceu?
LÊDO: Eu fui agredido pelas costas. Discutimos e eu joguei um refrescante copo de Coca-Cola naquela cabeleira indecorosa, de onde exala um cheiro nauseabundo.
EDUARDO: Houve uma trombada física e eu o empurrei. Ele não me jogou vinho nem Coca, foi água mesmo. E não é poeta de quinta, mas de vigésima categoria.
Pode uma coisa dessas?
Por isso que eu digo, poeta tem que ter direitos especiais, há de ser complacente com o poeta. A idade física não conta em nada, são (somos) todos crianças, infantilóides, bobos. 80 anos desse jeito?
Mas pago um pau. Essa do Lêdo de "cabeleira indecorosa, de onde exala um cheiro nauseabundo" é mesmo digna de um imortal. Xingamos, mas com classe gramatical.
Me lembrei das brigas de dois amigos que fizeram jornalismo comigo e com a Marpessa: o Piu e o Willians (onde andam vocês?). Lembrei-me da própria Map, também, embora as nossas brigas não incluam alusões físicas (ambas belas, não há realmente o que se dizer).
quarta-feira, novembro 17, 2004
Gastronomia
Arph, 4a. feira, não tenho alimento, pouquíssimo dinheiro e excelentes opções gastronômicas à minha disposição: perto de meu trabalho tem um (e único) restaurate chamado Mixutas's Point. A supremacia nominal só é ultrapassada pela higiene do local. Extremamente asseado como, inclusive, todos os lugares onde uma pessoa possa vir a se alimentar aqui na região.
Logo a frente, uns 1500 metros, mais ou menos, temos outro restaurante tbém limpíssimo, barato, com paredes bem amarelas sem janelas para que se instale o soninho pós- refeição. O interessante dessa decoração é que, ao entrar, você se sente tão deprimida que até perde a vontade de comer, o que facilita, e muito, a vida obesa de pessoas como eu. Almocei lá uma 4a. feiras atrás. Huumm, tinha uma deliciosa sopa de feijão preto com ossos suínos e banha. Uma verdadeira delícia. Os intestinos grosso e delgado até se dão as mãos para cantarolar canções felizes e rodar ciranda.
Hoje será uma festa.
terça-feira, novembro 16, 2004
Coisas de Marcelo
Levei meu filhotinho ao shopping outro dia, ao que somos abordados por uma simpática moça com uma bandeja cheia de docinhos, os quais, oferece a ele.
Marcelo, educadamente, pergunta: "O que que é isso?"
A moçoila, com a maior cara de paisagem deste mundo, sorriso largo, exclama: "São pretzels."
Marcelo pega um, dá uma mordidinha e, com o desdém que lhe é peculiar, diz: "Ah, bolinho-de-chuva. É, até que é gostoso."
Desprezo e decepção são companheiros inseparáveis.
sábado, novembro 13, 2004
Preconceito
Estava conversando com uma amiga dia desses e comentei, feliz, sobre a matéria de capa da revista Educação deste mês: a discussão sem preconceito sobre homessexualidade nas escolas.
Fiquei surpresa ao ouví-la dizer que ela é preconceituosa sim, e que aceita mas não gostaria de ter um homossexual na família. Minha surpresa se deu por eu ter conhecido há um mês mais ou menos, um aparentemente grande amigo dela, assumidamente homossexual.
Minha revolta não é com ela, o que se deu foi que, através de seu comentário, pude perceber que essa é a postura da maioria das pessoas com relação ao assunto. "Aceito, mas nos outros. Não na minha casa. Não entre os meus". Como quem diz: lhe digno a conversar comigo, a vergonha maior é da sua família mesmo. Lhe concedo este favor.
Acho tão absurdamente retrógrado que, novo milênio adentrado, mais de DOIS MIL anos depois do advento do catolicismo, ainda se julguem pessoas pela sua opção sexual (isso sem falar em cor, religião, e outras formas de discriminação. Prefiro me ater somente na questão da homossexualidade). Coloco o cristianismo na berlinda pois com ele é que as podas começaram a ser feitas, a repressão, a negação dos instintos e da ligação com a essência e com as coisas da natureza. Depois do cristianismo o homem virou definitivamente as costas à sua natureza animal, tornando-se subserviente à "vontade de deus" e ao medo de pecar. Seduzido pela idéia de ser filho de deus, quis tornar-se um (sem perceber que já o era) obedecendo a códigos impostos pelos interesses de outros tão homens quanto ele. Desejos de ganância e dominação. E até hoje, tão arraigado ficou, respondemos ao tolhimento de nossos instintos em nome da igreja e da moral.
Um dia, ouvi do progenitor de meu filho, que parecia que meu grande sonho era que o menino virasse viado (palavras dele). Palavras tão doces foram proferidas por conta da educação que dou ao Marcelo, absolutamente livre de preconceitos de qualquer espécie - me esforço muito nisto. Isso foi dito como se eu estivesse cometendo um crime, como se estivesse, pouco a pouco, mutilando a criança a fim de vê-lo, na adolescência, um aleijado (de sua macheza.). Não tenho o sonho de ver meu filhotinho gay. Nem o contrário. Sonho, sim, vê-lo feliz e certo de seus caminhos, sejam estes quais forem. Óbvio que sei que, se porventura ele se descobrir homossexual, teremos diversos problemas com os outros. Mas, vejam bem, TEREMOS. Estarei ao lado dele sob quaisquer circunstâncias. Mas me ocorre que, talvez quando a pessoa diz que aceita, mas não na sua família, esteja na verdade querendo é evitar problemas para si mesma. Como se dissesse "tudo bem, você quer ser homo? Seja. Por mim, eu não tendo de sofrer contigo...". Ninguém gosta de sofrer ou ver os seus sofrendo, a última coisa que quero nesta vida é ver meu gatinho dodói. Mas SEI que ele vai sofrer, por um motivo ou por outro. Nunca poderei evitar, por mais que queira. A única e melhor coisa que posso fazer é ficar ao seu lado, dar colo e fazer festinha na sua cabeça. Quem já doeu só, sabe da grande valia dessas coisas aparentemente tão bobas.
quinta-feira, novembro 11, 2004
Sem noção
Em frente ao meu trabalho tem um salão de cabeleireiros chamado Carrie. Não, na boa, alguém pode imaginar um nome pior pra um salão de beleza?
Qualquer pessoa deste mundo ao ler o nome Carrie, imediatamente se lembra do filme Carrie, a Estranha (ou então daquela música horrorosa do Europe).
Agora me digam, quem é que vai a um salão de beleza, pagar quantias exorbitantes pra ficar parecida com A Estranha?
Deveriam ter montado este salão lá na terra do Halloween para Jack Esqueleto pagar uma permanente para sua linda, lisa e ruiva esposa.Ou pra Noiva do Reanimator se aprontar para o Grande Dia.
Cada idéia.
O triste mundo do vício
Há muitos e muitos anos, quando eu ainda fazia questão de ter uma vida social, corria à boca pequena uma lenda urbana sobre um colírio chamado "Ciclopérgico" (ou algo assim) que, se pingado no nariz, provocava reações, hã, deixava o fulano muito louco, é isso. Pois me comoveu deveras a nebulosa vida do viciado.
Imaginem, minha gente, o indivíduo chegando sorrateiramente, na calada da noite, numa farmácia para comprar o famigerado, tentando disfarçar mas olhando, nervosamente, para todos os lados, como se estivesse sendo perseguido. Pede o medicamento ao farmacêutico que se nega a vendê-lo na ausência de uma receita médica. Ele pede, implora, fala que está com conjuntivite crônica, mostra os olhos vermelhos, nos quais, acabara de pingar, na esquina, as últimas gotas da pinga barata com limão taiti, comprada no boteco de bilhar justamente para este fim.
Não atendido, desesperado, o pobrezinho se embarafusta por vielas escuras, sujas e cheirando a urina, atrás de algum traficante que possa aliviar o seu sofrimento.
Vez ou outra, chama seus amigos viciados para uma noitada nasalar, e seguem, por toda noite, puxando ranho com colírio e vendo seres elementais em poças d'água.
Mal sabe que, logo mais, dizendo ter o canal, será ludibriado por um trafi sem coração e seguirá por toda a vida carregando a sina da droga e a alcunha de "Maluco Moura Brasil".
A família desesperada irá, logo depois, interná-lo em uma clínica de recuperação de drogados, onde fará uma desintoxicação com Rinosoro e soro fisiológico.
Triste destino, meu deus, triste destino...
Sobre comment
Vejam, caros leitores. Além de estar sofrendo, uma pessoa não pode dividir com os seus as suas dores sem ouvir reprimendas marcadas pelo puritanismo.
Mas saibam, não vou me abalar com críticas embasadas pelo cinismo e falso moralismo. Fiquem tranquilos: continuarei abrindo meu coração a vocês.
Mas saibam, não vou me abalar com críticas embasadas pelo cinismo e falso moralismo. Fiquem tranquilos: continuarei abrindo meu coração a vocês.
quarta-feira, novembro 10, 2004
Puta que pariu
é foda essa vida. Alguém acredita que menstruei de novo? DUAS vezes no mesmo mês? É muito azar, muita zica, muita praga da indústria farmacêutica.
Detesto ficar menstruada por uma simples razão: é um sofrimento inútil se a gente não não tem intenção de emprenhar. Você passa 28 dias do seu mês juntando sangue na barriga pra depois ficar escorrendo pelas latrinas alheias, esfregando o funil da calcinha na água quente do chuveiro pra ver se as manchas saem e se contorcendo de cólicas. Eu sinto terríveis dores na perna e uma enxaqueca que não passa com 3 mil miligramas de remédio nenhum. Isso sem contar a TPM. Quando não quero matar meio hemisfério, saio chorando feito carpideira por tudo: músicas, comerciais de sabão em pó, propaganda de ongs... o Jú e o Marcelo é que sofrem (apesar que, mês passado, o Jú entrou em TPM comigo. Foi um inferno.)
E pra quê tudo isso? Pra absolutamente NADA. Se o sangue ainda prestasse pra alguma coisa, uma transfusão, sei lá, se fosse tipo uma maravilha cosmética (apesar que, por estética nenhuma, eu passaria um creme daquela porra fedida a ferro na minha cara).
Por exemplo, o Júlio. Segundo informações de origem segura, Júlio é louco para menstruar. Até já escolheu seu modelo de absorvente (escolheu mal, a meu ver, mas cada um, cada um. O meio das pernas é dele). Não poderíamos entrar num acordo tácito e realizar uma permuta? Eu cederia a ele a minha menstruação e em troca ele me... nossa, ele me nada. Seria capaz até de fazer uma intera em dinheiro pra que ele aceitasse a minha oferta.
Acho que deveria ser ao contrário do que é. A gente deveria tomar um concepcional, ou seja, um remédio para poder ovular e engravidar quando fosse de nosso interesse. Você toma o remédio, menstrua, e 14 dias depois o bichinho do menino fecunda o ovinho da menina. Tão simples...
Tenho absuluta consciência que sofro tantos efeitos colaterias porque não curto o papo, se desencanasse, tudo melhoraria. Mas como desencanar de uma droga tão inútil como essa? Saber não me adianta nada.
Absorventes com abas...faça-me o favor.
Detesto ficar menstruada por uma simples razão: é um sofrimento inútil se a gente não não tem intenção de emprenhar. Você passa 28 dias do seu mês juntando sangue na barriga pra depois ficar escorrendo pelas latrinas alheias, esfregando o funil da calcinha na água quente do chuveiro pra ver se as manchas saem e se contorcendo de cólicas. Eu sinto terríveis dores na perna e uma enxaqueca que não passa com 3 mil miligramas de remédio nenhum. Isso sem contar a TPM. Quando não quero matar meio hemisfério, saio chorando feito carpideira por tudo: músicas, comerciais de sabão em pó, propaganda de ongs... o Jú e o Marcelo é que sofrem (apesar que, mês passado, o Jú entrou em TPM comigo. Foi um inferno.)
E pra quê tudo isso? Pra absolutamente NADA. Se o sangue ainda prestasse pra alguma coisa, uma transfusão, sei lá, se fosse tipo uma maravilha cosmética (apesar que, por estética nenhuma, eu passaria um creme daquela porra fedida a ferro na minha cara).
Por exemplo, o Júlio. Segundo informações de origem segura, Júlio é louco para menstruar. Até já escolheu seu modelo de absorvente (escolheu mal, a meu ver, mas cada um, cada um. O meio das pernas é dele). Não poderíamos entrar num acordo tácito e realizar uma permuta? Eu cederia a ele a minha menstruação e em troca ele me... nossa, ele me nada. Seria capaz até de fazer uma intera em dinheiro pra que ele aceitasse a minha oferta.
Acho que deveria ser ao contrário do que é. A gente deveria tomar um concepcional, ou seja, um remédio para poder ovular e engravidar quando fosse de nosso interesse. Você toma o remédio, menstrua, e 14 dias depois o bichinho do menino fecunda o ovinho da menina. Tão simples...
Tenho absuluta consciência que sofro tantos efeitos colaterias porque não curto o papo, se desencanasse, tudo melhoraria. Mas como desencanar de uma droga tão inútil como essa? Saber não me adianta nada.
Absorventes com abas...faça-me o favor.
segunda-feira, novembro 08, 2004
domingo, novembro 07, 2004
Hilária
Gosto muito desta crônica. A história é impagável.
O ÔNIBUS
"Vou logo dizendo que esta história não se passou comigo pois bem sei que os asseclas da oposição irão me creditar este feito sem pestanejar.
Sou míope, admito. “Tonta, desocupada e míope”, mas repito: o único papel que me cabe nesta narrativa é o de narrar. Narremos, portanto.
Certa grande amiga minha tem uma irmã. Míope. Quão míope eu não saberia dizer, imagino que não muito pela espessura da lente de seus óculos. Mas arrisco dizer que, em casos como este, certas propensões espirituais contam tanto quanto, ou até mais, que as debilidades físicas.
Pois a irmã da minha amiga estava no ponto esperando o seu ônibus. De noite. Devo esclarecer para os menos entendidos que para nós, os de pouca visão, essa é das mais árduas tarefas existentes. O ônibus vem se aproximando e o letreiro lá, todo embaçado. O míope semi-cerra os olhos, Ilegível. O esforço se redobra. Formas vagas começam a se delinear. O psicológico já está suando, tudo em poucos segundos. O míope dá um passo e desce do meio-fio (como se fosse adiantar). O ônibus se aproxima cada vez mais. O míope finalmente identifica o destino do ônibus. É o que ele esperava. Dá o sinal. O ônibus já passou. Periclitante. Com o tempo, passamos a nos utilizar de outros recursos como o aspecto gráfico, por exemplo. Cores e formatos de esboços costumam dar indícios do que possa vir a ser o que não se pode ver. Acredito que esta não fosse uma prática comumente usada pela nossa heroína, visto sua “atitude”. Decerto, ela deve (ou pelo menos devia) ser adepta da tática do “vinde a mim as criancinhas”. Esta prática, muito simples mas deveras repudiada pelos nossos caros condutores, consiste em dar sinal para todo e qualquer ônibus que assome no horizonte da falta de nitidez.
Uma hora se acerta.
Outra hora não.
Pois lá estava a irmã da minha amiga no ponto quando surge o grande veículo iluminado. Ela tenta ler o letreiro que lhe parece praticamente invisível apesar de todos os esforços de visão. Quer chegar logo em casa, é sábado de carnaval, dane-se, o ponto está cheio, se o ônibus não servir pra ela, pra outro há de servir. Num impulso agônico dá o sinal de parada. O carro se aproxima e, conforme isso ocorre, delineia-se diante de seus olhos duas graves constatações: não, o ônibus não ia para a sua casa mas se encaminhava para o mais próximo depósito de dejetos residuais. E não, o ônibus não era um ônibus mas sim um caminhão de lixo.
Agora, pensem no ultraje interior de dar sinal para um caminhão de lixo. Pensem. No sentimento da derradeira decadência . E as outras pessoas todas no ponto, assistindo à patética ação de seu ser. Você, caro leitor, se imagine no lugar de nossa amiga, tentando disfarçar, fazendo que passava as mãos no cabelo, fazia alongamento...
Mas deixemos um pouco de lado a degradação pessoal da pobre e analisemos a situação por um outro prisma. Meu amado costuma dizer , mui sabiamente, que toda coisa ruim que acontece para uma pessoa, proporciona uma coisa boa para outras. Por exemplo, a pessoa morre. Mas abre várias vagas no mercado de trabalho: na ocupação de seu antigo posto, para o marceneiro que faz caixão, para o coveiro, para a florista (se for um morto mais ou menos querido), para o vendedor de lotes em cemitérios arborizados e pacíficos, enfim.
Pois então, partindo deste pressuposto, podemos dizer que, neste dia, a irmã da minha grande amiga se sagrou a ALEGRIA DOS LIXEIROS. Devemos voltar os nossos olhos para este tão marginalizado profissional, que leva tão dura vida em sua labuta diária. Agora, pensemos na diversão, na espontaneidade e pertinência dos comentários, ah, o riso solto. Vejam como um singelo gesto, um simples levantar de braço trouxe a felicidade a tantas pessoas: lixeiros, passageiros, transeuntes...
E o que são o constrangimento e a quase total degeneração moral diante da possibilidade de tornar o seu próximo um ser mais feliz? Me digam?
Esqueçamos as chacotas. Esqueçamos as injúrias, as pilhérias, as galhofas.
Pensemos nos outros. Sejamos ridículos."
(O Sindicato dos Poetas - A. Muroni)
O ÔNIBUS
"Vou logo dizendo que esta história não se passou comigo pois bem sei que os asseclas da oposição irão me creditar este feito sem pestanejar.
Sou míope, admito. “Tonta, desocupada e míope”, mas repito: o único papel que me cabe nesta narrativa é o de narrar. Narremos, portanto.
Certa grande amiga minha tem uma irmã. Míope. Quão míope eu não saberia dizer, imagino que não muito pela espessura da lente de seus óculos. Mas arrisco dizer que, em casos como este, certas propensões espirituais contam tanto quanto, ou até mais, que as debilidades físicas.
Pois a irmã da minha amiga estava no ponto esperando o seu ônibus. De noite. Devo esclarecer para os menos entendidos que para nós, os de pouca visão, essa é das mais árduas tarefas existentes. O ônibus vem se aproximando e o letreiro lá, todo embaçado. O míope semi-cerra os olhos, Ilegível. O esforço se redobra. Formas vagas começam a se delinear. O psicológico já está suando, tudo em poucos segundos. O míope dá um passo e desce do meio-fio (como se fosse adiantar). O ônibus se aproxima cada vez mais. O míope finalmente identifica o destino do ônibus. É o que ele esperava. Dá o sinal. O ônibus já passou. Periclitante. Com o tempo, passamos a nos utilizar de outros recursos como o aspecto gráfico, por exemplo. Cores e formatos de esboços costumam dar indícios do que possa vir a ser o que não se pode ver. Acredito que esta não fosse uma prática comumente usada pela nossa heroína, visto sua “atitude”. Decerto, ela deve (ou pelo menos devia) ser adepta da tática do “vinde a mim as criancinhas”. Esta prática, muito simples mas deveras repudiada pelos nossos caros condutores, consiste em dar sinal para todo e qualquer ônibus que assome no horizonte da falta de nitidez.
Uma hora se acerta.
Outra hora não.
Pois lá estava a irmã da minha amiga no ponto quando surge o grande veículo iluminado. Ela tenta ler o letreiro que lhe parece praticamente invisível apesar de todos os esforços de visão. Quer chegar logo em casa, é sábado de carnaval, dane-se, o ponto está cheio, se o ônibus não servir pra ela, pra outro há de servir. Num impulso agônico dá o sinal de parada. O carro se aproxima e, conforme isso ocorre, delineia-se diante de seus olhos duas graves constatações: não, o ônibus não ia para a sua casa mas se encaminhava para o mais próximo depósito de dejetos residuais. E não, o ônibus não era um ônibus mas sim um caminhão de lixo.
Agora, pensem no ultraje interior de dar sinal para um caminhão de lixo. Pensem. No sentimento da derradeira decadência . E as outras pessoas todas no ponto, assistindo à patética ação de seu ser. Você, caro leitor, se imagine no lugar de nossa amiga, tentando disfarçar, fazendo que passava as mãos no cabelo, fazia alongamento...
Mas deixemos um pouco de lado a degradação pessoal da pobre e analisemos a situação por um outro prisma. Meu amado costuma dizer , mui sabiamente, que toda coisa ruim que acontece para uma pessoa, proporciona uma coisa boa para outras. Por exemplo, a pessoa morre. Mas abre várias vagas no mercado de trabalho: na ocupação de seu antigo posto, para o marceneiro que faz caixão, para o coveiro, para a florista (se for um morto mais ou menos querido), para o vendedor de lotes em cemitérios arborizados e pacíficos, enfim.
Pois então, partindo deste pressuposto, podemos dizer que, neste dia, a irmã da minha grande amiga se sagrou a ALEGRIA DOS LIXEIROS. Devemos voltar os nossos olhos para este tão marginalizado profissional, que leva tão dura vida em sua labuta diária. Agora, pensemos na diversão, na espontaneidade e pertinência dos comentários, ah, o riso solto. Vejam como um singelo gesto, um simples levantar de braço trouxe a felicidade a tantas pessoas: lixeiros, passageiros, transeuntes...
E o que são o constrangimento e a quase total degeneração moral diante da possibilidade de tornar o seu próximo um ser mais feliz? Me digam?
Esqueçamos as chacotas. Esqueçamos as injúrias, as pilhérias, as galhofas.
Pensemos nos outros. Sejamos ridículos."
(O Sindicato dos Poetas - A. Muroni)
Dodói
Alguns ferimentos que me foram feitos, precisaram ser muito lambidos pra sarar.
Foda são os que ainda doem quando faz frio...
Foda são os que ainda doem quando faz frio...
sábado, novembro 06, 2004
Trágicos acontecem...
Enqüanto postava a última mensagem, descemos pra fumar um crivo, eu e Jú. Sentamos na rede e Marcelo, em pé, ficou jogando uma bolinha de tênis para ele (acertando várias boladas em mim, diga-se de passagem).
Em dado momento da brincadeira, aconteceu algo que mal pude vislumbrar, ao que Marcelo, com sua boca bendita, solta um "trágicos acontecem". Pensei, foi só o que deu tempo, em corrigí-lo e... a rede arrebentou, lançando-nos de costas a um confortável solo de cimento batido.
Com o cotovelo todo ensangüentado, ralado feito parmesão, ainda ouço o sardônico comentário de minha cria: "ainda bem que você não fez escândalo".
Pois agora, minha gente, uma pessoa não pode nem mais sofrer em paz.
Subi para o banheiro, Marcelo entra sorrateiro e joga um pedaço de esponja molhada, que os dois estavam usando para lavar carrinhos, bem nas minhas nádegas. Enqüanto eu gritava de susto e repulsão, os dois se mijavam de rir do plano diabólico engendrado contra mim.
Tudo me leva a crer, que minha família não me tem o menor respeito e consideração.
E que o destino tem apurado, sensivelmente, o seu "senso de humor".
Em dado momento da brincadeira, aconteceu algo que mal pude vislumbrar, ao que Marcelo, com sua boca bendita, solta um "trágicos acontecem". Pensei, foi só o que deu tempo, em corrigí-lo e... a rede arrebentou, lançando-nos de costas a um confortável solo de cimento batido.
Com o cotovelo todo ensangüentado, ralado feito parmesão, ainda ouço o sardônico comentário de minha cria: "ainda bem que você não fez escândalo".
Pois agora, minha gente, uma pessoa não pode nem mais sofrer em paz.
Subi para o banheiro, Marcelo entra sorrateiro e joga um pedaço de esponja molhada, que os dois estavam usando para lavar carrinhos, bem nas minhas nádegas. Enqüanto eu gritava de susto e repulsão, os dois se mijavam de rir do plano diabólico engendrado contra mim.
Tudo me leva a crer, que minha família não me tem o menor respeito e consideração.
E que o destino tem apurado, sensivelmente, o seu "senso de humor".
Tive uma manhã adorável hoje.
Após UMA reconfortante única hora de sono, vi-me lançada ao mundo, podre de cansaço, arruinada fisica e moralmente.
Subi a rua de casa mais lentamente que uma lesma paralítica quando percebo um senhor escarrando mui ruidosamente lá pra trás de mim e cuspindo ao chão sem nenhuma cerimônia. Eu, que sou muito dada a religião nestes momentos de crise, pensei imediatamento: "deus, tenha misericórdia do mundo e não coloque ninguém fazendo besteira hoje em meu caminho. Não há o menor resquício de complacência em meu ser."
Um átimo de segundo antes de minhas preces chegarem aos céus, Hekamiah, meu anjo da guarda e sua comitiva de assessores resolvem fazer jus ao seu salário celestial:
- Ela está atrasada de novo.
- Muito atrasada. E andando nessa ligeireza...
- Precisamos descer e dar um jeito dela andar mais depressa.
- Saco!!!
- Vai, não tem jeito. Que tal irmos como baratas?
- Não rola. Ela vai sair correndo pela rua e, com tantos de nós, é capaz até de ser atropelada. Vai dar ainda mais trabalho do que já tem dado.
- Que é que a gente pode fazer desta vez?
- Trabalhinho criativo esse, heim?
- (pssii. eu sei é que nunca mais vou querer ser assessor de anjo de poeta. só dor de cabeça.)
Aí os anjos, com seu apurado bom senso, ouvem minhas preces, vêem o velho catarrento e... o colocam no meu encalço. Tão cansada, tendo de correr pelas ruas a fim de aumentar a vantagem e parar de ouvir os escarros do fulano. Na boa, o cara parecia respirar secreções ao invés de ar, nunca vi ninguém com expectoração tão contínua e barulhenta.
Distância ganha, já perto da estação, tomo uma bela de uma cotovelada na cabeça de um figura muito alto que resolveu passar as mãos pelos cabelos bem no meu passar (e vejam que sou uma mulher muito alta e esguia). Menos de dez metros a frente, quase tomo uma engradada de garrafas na cabeça por parte dos carregadores da padaria.
Vida bruta...
Após UMA reconfortante única hora de sono, vi-me lançada ao mundo, podre de cansaço, arruinada fisica e moralmente.
Subi a rua de casa mais lentamente que uma lesma paralítica quando percebo um senhor escarrando mui ruidosamente lá pra trás de mim e cuspindo ao chão sem nenhuma cerimônia. Eu, que sou muito dada a religião nestes momentos de crise, pensei imediatamento: "deus, tenha misericórdia do mundo e não coloque ninguém fazendo besteira hoje em meu caminho. Não há o menor resquício de complacência em meu ser."
Um átimo de segundo antes de minhas preces chegarem aos céus, Hekamiah, meu anjo da guarda e sua comitiva de assessores resolvem fazer jus ao seu salário celestial:
- Ela está atrasada de novo.
- Muito atrasada. E andando nessa ligeireza...
- Precisamos descer e dar um jeito dela andar mais depressa.
- Saco!!!
- Vai, não tem jeito. Que tal irmos como baratas?
- Não rola. Ela vai sair correndo pela rua e, com tantos de nós, é capaz até de ser atropelada. Vai dar ainda mais trabalho do que já tem dado.
- Que é que a gente pode fazer desta vez?
- Trabalhinho criativo esse, heim?
- (pssii. eu sei é que nunca mais vou querer ser assessor de anjo de poeta. só dor de cabeça.)
Aí os anjos, com seu apurado bom senso, ouvem minhas preces, vêem o velho catarrento e... o colocam no meu encalço. Tão cansada, tendo de correr pelas ruas a fim de aumentar a vantagem e parar de ouvir os escarros do fulano. Na boa, o cara parecia respirar secreções ao invés de ar, nunca vi ninguém com expectoração tão contínua e barulhenta.
Distância ganha, já perto da estação, tomo uma bela de uma cotovelada na cabeça de um figura muito alto que resolveu passar as mãos pelos cabelos bem no meu passar (e vejam que sou uma mulher muito alta e esguia). Menos de dez metros a frente, quase tomo uma engradada de garrafas na cabeça por parte dos carregadores da padaria.
Vida bruta...
sexta-feira, novembro 05, 2004
Finalmente...
... depois de tanta espera, consegui entrar no Blogger.
Inclusive, a espera e a demora têm sido companheiras inseparáveis. Essa vida de viajante diária chapa a gente às vezes. Notei uma coisa: todos os dias eu chego à estação de trem no mesmo horário, não importa quão mais cedo eu saia de casa. Me ocorreu algo: será que os relógios da estação estão todos parados? É a única explicação razoável que consigo encontrar. Fora, é claro, meu problema natural com o tempo.
Pois bem, hoje vinha vindo, como sempre, cronometrada e, se tudo desse certo (por que não daria?) eu poderia passar no mercadinho e comprar meu pãozinho com queijo e leite para um delicioso e barato breakfast.
Pois o trem, o trem... acho engraçado, às vezes o trem vem tão lentamente saltitante, como se passeasse por um bosque; quase posso ouví-lo cantando alegres melodias para os trilhos enquanto o maquinista colhe flores pela alameda colorida pelas borboletas. Tudo pé ante pé, mui delicados para não acordar os dormentes. Seria até bucólico se eu não estivesse sempre com pressa e a porra da hora não estivesse passando sem piedade. Ainda o maquinista anuncia, com voz delicada, que "a composição transita com velocidade reduzida". Arph, detesto redundâncias.
quinta-feira, novembro 04, 2004
Gosto de...
... pisar em coisas "cocrantes": folhas secas, salgadinhos perdidos, e também de roubar jornaizinhos de ofertas de supermercado do portão dos outros.
Genealogia
Marcelo, meu filho, estava montando quebra-cabeças na internet por esses dias de noite e me convidou pra montar um. Nem bem comecei já me veio com "faz assim, faz assado". Dispensei a ajuda mas ele insistiu mais uma vez : "se eu fosse você...". Novamente comuniquei a ele que seria muito da capaz de realizar a tarefa sozinha quando do que ele, conformado, promete não dar mais palpites. Usando de toda minha capacidade intelectual, montei o tal quebra-cabeças de umas 12 peças virtuais. Ao acabar, tenho de ouví-lo com a maior cara de pouco caso do mundo, muito do superior, mal voltando a cabeça para mim, no desprezo mesmo: "Nossa, tô impressionado". Como posso ser tão subestimada? E ainda pelo meu próprio filho, sangue do meu sangue, saído da minha barriga? Onde vai parar o mundo desse jeito? O cara fica nove meses morando dentro de mim e, depois que sai, acha que pode ficar me tirando. Poder, assim, pode, vou fazer o que também? Mas não deveria, é isso, não deveria.
Pior de tudo é que ele falou comigo no mesmo tom, com a mesma cara que a Map, minha melhor amiga imaginária (a tal que me entitulou de cronópia), falou comigo por tantas vezes no decorrer dos anos. Se ela não tivesse se mudado pra casa da caralha, diria que é a convivência, mas não. Só se foi por osmose. Acho que me arrependi por tê-la deixado ser madrinha do meu pobre bebê. Coitadinho.
Vida Ferroviária 2
Gosto muito de comprar coisinhas no trem, sabe? Pena que, hoje em dia, o comércio ferroviário informal não tem sido mais tão criativo quanto era há alguns anos.
Por exemplo, dias desses, tinha um rapaz vendendo por R$1,00, dois kits com 27 agulhas. Agora, se alguém for capaz, me diga: o que faz uma pessoa com 27 agulhas? Não, porque, até pensei que fosse um kit para pessoas esquecidas, que agulha é sempre aquela mesma historinha, saca? A gente enfia não sei em que PI, e depois é um suplício pra poder achar na hora em que precisa. Mas daí me ocorreu: dois kits necessitam de uma pessoa esquecida que mantenha em seu convívio mais alguma pessoa esquecida. Não que isso seja muito difícil, eu, por exemplo, conheço pessoas deveras estranhas, com as quais só ouso me relacionar ainda por uma mera questão de benevolência, de exercício de convivência com o diferente, porque acho que o que falta realmente no mundo moderno é um efetivo trabalho de tolerância para com os menos favorecidos, por exemplo, no que concerne ao bom-senso.
Enfim, voltemos às agulhas. Pois pensando muito bem pensadinho, cheguei à conclusão de que, a única forma de o conjunto de 27 agulhas servir ao propósito a que se presta (porque não podem existir tantos tamanhos de agulhas diferentes e seus respectivos panos e linhas) que, a meu ver é a questão da perda, seria espalhá-las por 27 lugares diferentes da casa. Seria muito bom casas que possuem flores de tecido pra que algumas ficassem espetadas nas pétalas. Naquelas roupinhas ridículas de liquidificador também, aquelas, lembram?, muito usadas antigamente. Deveriam ser lugares fáceis para serem encontrados, mas nem tanto pra que mãos delicadas não fossem feridas. Nào sei não, acho difícil ter-se tantos lugares desta natureza em casa. Eu, por exemplo, não ponho camisinha em nenhum dos meus eletrodomésticos, só no bujão de gás, mas bujão é outra natureza de coisas né? Seria um utensílio? É mesmo, né? O que é um botijão de gás?
Pronto, comecei a escrever preocupada com a problemática quantidade de agulhas X lugar e agora, além de não ter uma resposta satisfatória, ainda tenho outra questão a resolver. Merda.
Bom, fazia dias já que não escrevia pro blog. É que tive dias tumultuados, feriadão, fui pra praia com meu Amor, super diverti. Claro que houveram as intempéries: bati a testa na porta de um banheiro muito grande ao tentar me agachar, ganhei um galo, perdi meu celular (encontrei depois) e furei com minhas amigas que iriam ganhar um delicioso almoço de Finados em casa que acabou não rolando. Me xingaram, precisa ver...
Inclusive, eu não ia falar nada não mas agora eu vou. As pessoas do meu convívio têm sido muito duras comigo: liguei pra uma amiga lá de longe que me brigou pq esqueci seu aniversário. Gente, eu sou poetisa, já não bastasse o tormento ainda não posso usar isso como justificativa pra nada? Quando, por exemplo, roubaram meu RG. Levei o B.O. pra pedir uma 2a. via e precisei ficar dando explicação porque a data era de três anos atrás. Ás vezes as pessoas perdem a hora da vida. Tenho muitas coisas etéreas com as quais me preocupar, tenho que ganhar dinheirinhos e ainda não posso me esquecer de algumas datas? Acho muito do injusto.
Depois, falo com outra amiga de um lugar longe, o mesmo lugar longe da primeira amiga, e ela me fala que sou a pessoa mais cronópia que ela conhece. Já não fosse perturbada o suficiente, ainda sou obrigada a ouvir que sou algo que não sei o que é e que agora vou ter que achar a caceta do livro do Cortázar pra descobrir o que sou afinal (Histórias de Cronópios e de Famas). Não que eu me importe muito com a opinião dela, ou que necessite saber qual seu julgamento a meu respeito, mas é que nos conhecemos faz muito tempo e preciso saber se ela tem uma opinião equivocada sobre mim. Não que me importe, que fique bem claro, na verdade, nem ligo pra ela. É. Não ligo não, é só curiosidade...
Depois, vejam bem que crueldade, comento com outra pessoa que tinha uma barata na minha cozinha de manhã e que me acabou o dia quase porque não pude tomar água com medo de que ela tivesse dado um jeito de entrar no armário e passar pelos copos e que não daria tempo de desinfetá-los e tenho que tomar um copo d'água todo dia ao acordar para começar o dia. Sabem o que ouço? Que há uma conspiração secreta (ah, o Código da Vinci) entre as baratas, e que elas se revezam pra lamber meus copos durante a noite. Que ficam lá, "passando a língua" na beirada dos MEUS copos a noite toda. É de se suportar uma coisa dessas? Ainda encontro com o figura no trem e ele me liga em seguida pra dizer que depois que desci, as pessoas todas ficaram olhando pra ele com cara que ele fosse louco. E sabem de quem é a culpa? Minha, claro. O indivíduo parece aos olhos alheios saído de um hospital psiquiátrico (me abstenho de dar opiniões para não proferir ofensas) e a culpa é minha. Dali a pouco, vão falar que reelegi o Bush também.
Vida Ferroviária
Ontem de tarde, no trem, tinha uma moça fumê. Sério. Procurei ver se ela não vestia uma meia-calça bem comprida, talvez fosse uma excêntrica estrela do rock, mas não. Ela era fumê mesmo...
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