sábado, novembro 13, 2004

Preconceito

Estava conversando com uma amiga dia desses e comentei, feliz, sobre a matéria de capa da revista Educação deste mês: a discussão sem preconceito sobre homessexualidade nas escolas.
Fiquei surpresa ao ouví-la dizer que ela é preconceituosa sim, e que aceita mas não gostaria de ter um homossexual na família. Minha surpresa se deu por eu ter conhecido há um mês mais ou menos, um aparentemente grande amigo dela, assumidamente homossexual.
Minha revolta não é com ela, o que se deu foi que, através de seu comentário, pude perceber que essa é a postura da maioria das pessoas com relação ao assunto. "Aceito, mas nos outros. Não na minha casa. Não entre os meus". Como quem diz: lhe digno a conversar comigo, a vergonha maior é da sua família mesmo. Lhe concedo este favor.
Acho tão absurdamente retrógrado que, novo milênio adentrado, mais de DOIS MIL anos depois do advento do catolicismo, ainda se julguem pessoas pela sua opção sexual (isso sem falar em cor, religião, e outras formas de discriminação. Prefiro me ater somente na questão da homossexualidade). Coloco o cristianismo na berlinda pois com ele é que as podas começaram a ser feitas, a repressão, a negação dos instintos e da ligação com a essência e com as coisas da natureza. Depois do cristianismo o homem virou definitivamente as costas à sua natureza animal, tornando-se subserviente à "vontade de deus" e ao medo de pecar. Seduzido pela idéia de ser filho de deus, quis tornar-se um (sem perceber que já o era) obedecendo a códigos impostos pelos interesses de outros tão homens quanto ele. Desejos de ganância e dominação. E até hoje, tão arraigado ficou, respondemos ao tolhimento de nossos instintos em nome da igreja e da moral.
Um dia, ouvi do progenitor de meu filho, que parecia que meu grande sonho era que o menino virasse viado (palavras dele). Palavras tão doces foram proferidas por conta da educação que dou ao Marcelo, absolutamente livre de preconceitos de qualquer espécie - me esforço muito nisto. Isso foi dito como se eu estivesse cometendo um crime, como se estivesse, pouco a pouco, mutilando a criança a fim de vê-lo, na adolescência, um aleijado (de sua macheza.). Não tenho o sonho de ver meu filhotinho gay. Nem o contrário. Sonho, sim, vê-lo feliz e certo de seus caminhos, sejam estes quais forem. Óbvio que sei que, se porventura ele se descobrir homossexual, teremos diversos problemas com os outros. Mas, vejam bem, TEREMOS. Estarei ao lado dele sob quaisquer circunstâncias. Mas me ocorre que, talvez quando a pessoa diz que aceita, mas não na sua família, esteja na verdade querendo é evitar problemas para si mesma. Como se dissesse "tudo bem, você quer ser homo? Seja. Por mim, eu não tendo de sofrer contigo...". Ninguém gosta de sofrer ou ver os seus sofrendo, a última coisa que quero nesta vida é ver meu gatinho dodói. Mas SEI que ele vai sofrer, por um motivo ou por outro. Nunca poderei evitar, por mais que queira. A única e melhor coisa que posso fazer é ficar ao seu lado, dar colo e fazer festinha na sua cabeça. Quem já doeu só, sabe da grande valia dessas coisas aparentemente tão bobas.

Um comentário:

Mapie disse...

tens razão em tudo. e não ligue para o que certos progenitores dizem. a ignorância reina absoluta em determinadas cabeças.
;)