sexta-feira, novembro 19, 2004

Não sei porque conto essas coisas...

Vou contar uma historinha acontecida há alguns anos, a pedido de minha querida e delatora amiga Marpessa.
Saca aquele dia em que você não tem um tostão no bolso e todos os cheiros alimentícios invadem as suas narinas? Pois é, num dia desses, hra do almoço, morta de fome e de calor, estava eu na porta de um banco, sob um sol escaldante, aguardando há pelo menos hora e meia, um “amigo” que iria trazer o $ para cobrir o rombo que ele havia feito na conta da família com um cheque emprestado.
A situação já era chata, estava brava, nervosa, com fome, cansada, suando a cântaros e o fulano não vinha.
Depois que chegou com cara de cachorrinho que caiu da mudança, tomou uma dura e eu, é óbvio, enfrentei uma grande fila para fazer o depósito. Depois do que sai, sem eira nem beira, pelas ruas da megalópole mogiana.
Então me lembrei, grande sacada a minha, que havia um carrinho de cachorro-quente nos confins do lá longe que aceitava vale-transporte. Caminhei léguas até a tal barraca, garganta seca de tanta sede e efetuei a permuta. Oxalá voltasse a política do escambo. Em troca da passagem rápida para minha casa distante, recebi uma linda, vermelha, lustrosa e suada de tão gelada, latinha de Coca-Cola.
Abri a lata e atravessei a rua para tomá-la com delícia na sombra do outro lado. Virei a lata para dar O golão. Quem me conhece sabe que curto tomar tudo aos golões, até faltar o ar. Modéstia à parte, bebo rápido e bem. Pois é, fui seca pra beber metade da lata de uma vez, preparada pra engasgar com o gás, levei a lata à boca, virei aquele líquido abençoado todo de uma vez e... junto vem a porra de uma abelha que tinha feito o favor de entrar no mísero buraquinho da lata enquanto eu atravessava a rua em êxtase pré-saciação. Coisa de segundos.
Um gosto horrível invadiu a minha boca, inda hoje não sei se era o gosto da abelha ou do seu veneno. Não sou chegada a palavrões (rãrã) mas, filha-da-puta de abelha do caralho. Cuspi toda a Coca na mesma hora, no meio da avenida cheia de gente, dividindo meus líquidos com inocentes transeuntes.
Depois, claro, o lábio (inferior) começou a inchar, inchar, formando um grotesco apêndice labial, a gengiva pulsando, o gosto que não me saia da boca.
Agora eu estava pobre, acalorada, faminta, sedenta e ainda com um beiço super étnico. Sem contar a perspectiva de andar muitos, muitos quilômetros, me acreditem, pra poder chegar em casa.
Pra piorar, precisava resolver uma pendenga com um amigo que tem um senso de humor que, nossa, ninguém merece. Em aproximadamente 10 anos, não me lembro de ter tabulado uma, que fosse, conversa inteligente com o figura. A esposa dele, minha pobre amiga, será canonizada um dia. Eu tenho fé.
Pois fui conversar com ele e tive de ficar uns quinze minutos parada, esperando-o parar de rir de pobre minha pessoa. É mais do que humilhante ter de esperar que alguém se canse de lhe enxovalhar para depois lhe dar atenção. E ver as pessoas, todas, olhando pra você com uma cara de “tadinha, tão bonitinha, tão deformada”.
Sempre quis ter lábios grossos, boca grande, sensual, mas faça-me o favor

Um comentário:

Mapie disse...

primeiro ponto:
"Modéstia à parte, bebo rápido e bem.", desde QUANDO, mulher abestalhada, isso é algo elogioso ao qual se tenha que acrescentar "modéstia à parte"?

segundo: você estava esperando o Ivan? hehehehe...:)cara, nada mais insuportável do que o Ivan tirando uma da nossa cara. realmente intragável.

terceiro: "megalópole mogiana", "beiço super étnico" e "dividindo meus líquidos com inocentes transeuntes" - excelentes colocações...